por Paulo Moraes Ter 09 Set 2014, 16:09
Nos primórdios do cristianismo, antes mesmo de serem chamados de cristãos, já havia dissensão entre duas colunas da Igreja com a advertência do apóstolo Paulo ao apóstolo Pedro, pelo seu comportamento dúbio com os gentios e outro com a presença dos irmãos judeus(Gal. 2: 11 a 15). E o cristianismo só estava começando. Após decorridos quase 2.000 anos de evangelismo é normal haver milhares de denominações chamadas cristãs. Quando se adota uma determinada Igreja para adorar, louvar, orar, agradecer e ouvir a Palavra, de início parece ser a Igreja ideal, mas com o tempo nota-se a interpretação da Palavra conveniente aos dogmas da Instituição. Poderia citar vários exemplos, mas irei focar no “calcanhar de Aquiles” da maioria delas: a questão dos dízimos e ofertas.
Os argumentos a favor do dízimo:
1- Gen. 14:18 a 20 e 28:22: Abraão após vencer 4 nações com 318 homens oferece o dízimo ao Sacerdote do Deus altíssimo Melquisedeque e Jacó promete o dízimo ao Senhor Deus se houvesse sucesso em sua jornada que estava iniciando(não há registros bíblicos se ele cumpriu a promessa).
Contra-argumentos:
Ainda não havia lei exigindo a doação de dízimos, o que se pressupõe ter sido uma expressão, um ato espontâneo de ambos, Abraão pela vitória extraordinária e Jacó pela jornada desafiadora que se iniciava. Não há mal nenhum em doar 10, 20, 50, 100% de sua renda ou patrimônio, desde que seja resultado de uma vontade única e espontânea do doador, entregando com alegria e amor à obra do Senhor.
2- Mal. 3: 8 a 10: Roubará o homem à Deus....(todos conhecem o texto, é o mais usado nas Igrejas).
Contra-argumentos: claramente no 1º versículo do Livro de Malaquias está escrito que se destinava ao povo de Israel.
Aqui enxergo uma enorme hipocrisia:
Os 10 Mandamentos foram entregues diretamente de Deus à Moisés. Os estatutos se pressupõem também e, como exemplos, o ano de descanso, o ano jubileu, a lei sobre o resgate da descendência do esposo falecido pelo seu irmão casando-se com a viúva , a instituição das 3 festas anuais, do dízimo aos levitas(dos filhos de Israel eram os únicos que não receberam herança na terra de Canaã), entre outros fixados por Moisés sem falar no 4º mandamento determinando o sábado como o dia de descanso. Eram leis destinadas exclusivamente ao povo de Israel. Por que as Igrejas cristãs “pescaram” da Antiga Aliança apenas o que interessava? Os sabatistas ainda guardam o sábado, mas na nova Aliança o dia do Senhor são todos os dias da semana.
3- Jesus afirma que o fariseu deveria entre outras coisas dar o dízimo(Mat.23:23) e este na parábola com o publicano confessa dar o dízimo(Luc.18:12)
Contra argumentos:
Jesus veio para confirmar as escrituras que seria o eterno Rei de Israel, descendente na linhagem humana do rei Davi. E, realmente, como Ele mesmo afirmava a sua obra inicialmente se destinava aos filhos de Israel. Exemplos:
A mulher siro-fenícia(Mar.7:24 a 30): “deixa primeiro que se fartem os filhos”....
As instruções para os doze(Mat.10:5 e 6): “não tomeis rumo aos gentios.... mas, de preferência, procurai as ovelhas perdidas da casa de Israel”.
Jesus era judeu e reclamava da hipocrisia dos escribas e fariseus que dizimavam segundo a lei, mas esqueciam da justiça, misericórdia e a fé.
“Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel”(Mat. 15:24).
Jesus como Ele mesmo afirmara era a semente que precisava morrer para produzir muitos frutos(João 12:24).
A Obra redentora iniciou-se a partir de Seu sacrifício, morte e ressurreição, para que a Nova Aliança não fosse mais com um único povo, mas para todo aquele que Nele crer:
“Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem crer em mim..... para que o mundo creia que Tu me enviaste.....e os amaste, como também amaste a Mim.”(João 17:20 a 23)
“Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros, assim como Eu vos amei...(João 13:34).
Após a ascensão de Jesus, os discípulos juntamente com os convertidos ainda se reuniam em Jerusalém, até quando ocorreu a primeira perseguição à Igreja e foram dispersos pelas regiões circunvizinhas.
A partir daí, inicia-se a evangelização a nós os gentios e coube ao Apóstolo Paulo, chamado por Jesus, a incumbência de principal precursor das Boas Novas do Evangelho.
Paulo, além de pregar o evangelho, ensinava como deveria se organizar uma Igreja e, prisioneiro, escrevia as cartas aos irmãos localizados em várias cidades por onde passara:
:“Se vocês como judeus não conseguiram suportar ao jugo(submissão) da lei, como podem exigir que os gentios o façam?”(Atos 15:10).
Em suas epístolas orientava sobre a questão das ofertas:
“Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade, porque Deus ama a quem dá com alegria”. ( ICor.16:2 e IICor.9:7)
Paulo não menciona uma única vez a palavra dízimo.( A não ser que, com cada Igreja editando sua Bíblia em particular, foi incluso o dízimo nas palavras do apóstolo.)
E aí vem a pergunta que não pode calar:
Por que as Igrejas cristãs exigem o dízimo, ordem explícita ao povo de Israel, e não seguem a linha do apóstolo Paulo que foi o precursor do evangelho a nós os gentios?
Gostaria que alguém me respondesse.
Mas, mesmo assim, vou tentar dar a minha humilde opinião:
As Igrejas acham muito mais cômodo e simples exigir o dízimo sob ameaça que se assim não proceder, os irmãos “estariam roubando a Deus”, independente das condições financeiras de cada um. E, para estimular, ainda prometem prosperidade,
esquecendo-se da verdadeira e única riqueza que vale a pena ser conquistada em nossas vidas: o Reino dos Céus.
Atualmente há uma grande concorrência entre as igrejas neopentecostais, cada uma disputando com unhas e dentes o povo evangélico. E, por falta de transparência, os convertidos parecem até um povo nômade, ora concentram-se mais em uma, ora em outra.
As igrejas precisam abrir suas “caixas pretas” ao povo de Deus. Se elas desejam mais fidelidade, basta ser mais transparentes, honestas, autênticas, menos manipuladoras, não precisam criar “as 10 semanas da aliança ou do óleo ungido”, e etc, bastaria convocar os irmãos para participar das tomadas de decisões sobre os programas e objetivos da Igreja, como era no início:
eles se reuniam e vendiam seus bens e o resultado era destinado a todos de acordo com suas necessidades(Atos 2:45).
Não como é hoje, onde os líderes das Igrejas cada vez mais ricos e os irmãos dizimistas na sua maioria vivendo humildemente.
Afirmam que o povo evangélico está crescendo no Brasil e no mundo. Mas, quantos destas sementes cairão na boa terra e produzirão bons frutos?
Quantos não ficarão pelo caminho, comidos pelas aves ou escandalizados pelas aflições ou sufocados pelos espinhos?(Mat.13:1 a 23).
A manipulação do povo tem como consequência um estrago quase irreversível. Quando o irmão percebe que está sendo enganado, torna-se um descrente pior que um ateu convicto e recuperá-lo é quase impossível. Vide a situação das Igrejas na Europa que estão praticamente vazias.
O evangelho está sendo anunciado em todo o mundo conforme previu a Palavra, mas os remanescentes serão poucos, perseguidos, afligidos e depois virá o fim.(Mat. 24:15 a 28).
Paulo Moraes