Responder a essa pergunta envolve um outro questionamento: Jesus é Deus que veio em carne?
Se Jesus é Deus que veio em carne, a resposta é óbvia. Mas olha que curioso, mesmo considerando que Jesus é Deus que veio em carne, vemos que Jesus como homem sentia necessidades físicas e emocionais e até podia morrer, como morreu, mas depois foi ressuscitado. Sabemos que Deus não sente necessidades físicas e emocionais e evidentemente não pode morrer e portanto não há o que se falar em ressuscitar a Deus. É justamente isso que gera a confusão de alguns que não creem que Jesus é Deus que veio em carne, por que não admitem essa dualidade. Mas veja, mesmo considerando que Jesus é realmente Deus que veio em carne a dualidade é verdadeira. O que nos remete a uma outra questão? Como Deus trataria essa dualidade? Pois veja, mesmo que ele quisesse vir em carne, como ele trataria essa dualidade, pois ele também como imutável, tem que continuar sendo o Deus Todo Poderoso, que não sente necessidades, não está sujeito as coisas naturais etc. É aí que é o mistério, o relacionamento entre Pai e Filho, parecendo duas pessoas distintas, mas da mesma essência.
Temos também a outra visão, considerando que Jesus não pode ser Deus que veio em carne, e foi o próprio Deus que lhe deu todos os títulos que Jesus é, inclusive que o enviou. Mas a questão é: Por que Jesus não pode ser Deus que veio em carne? É por acaso limitado o poder de Deus, para fazer tal coisa? Evidente que todos nós concordamos que Deus tem esse poder de vir em carne ou alguém discorda disso? Mas a argumentação não se trata se Deus tem o poder de vir ou não em carne, mas de questão bíblica, então por que não aceitar João 1 que se considerarmos até mesmo no original nos remete a um Deus que veio em carne? Que problema há nisso? Não pode Deus vir em carne? Mas um fato curioso está em Hebreus 13:8 que diz:
"Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente."
Esse versículo é realmente muito interessante, pois se Jesus não é Deus que veio em carne, qual é o sentido de se falar que Jesus é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente?
Aqui é uma evidência clara de imutabilidade, e também remete a essência atemporal, no sentido de que não houve um começo e sabemos que só Deus é imutável e não teve um começo. Será que Deus então deu essa característica de imutabilidade a Cristo? No entanto, o versículo nos remete a uma essência, ou seja, não remete a algo que alguém deu a Ele, ou seja, uma suposta hipótese de que Deus deu essa característica de imutabilidade a Cristo, mas remete a essência da natureza de Cristo, isto é, algo que ninguém o deu. Será então que Cristo poderia ser imutável sem que Deus desse essa característica a ele?
Veja que estou falando de possibilidades de ambos os lados, e observe que mesmo que se creia em uma delas, pode facilmente haver confusões e contra argumentos utilizando a própria Bíblia a respeito daquilo que você acredita. Logo, não estamos exatamente tratando de interpretação daquilo que o texto bíblico quer realmente transmitir, mas daquilo que realmente acreditamos, pois se eu acredito que Jesus é Deus que veio em carne, crerei que Hebreus 13:8 nos revela a essência de Cristo e sua imutabilidade, mas se eu não creio que Jesus é Deus que veio em carne, considerarei que o próprio Deus o deu essa característica ou o criou dessa forma. Aqui não há o que se falar em interpretação e sim aquilo que você acredita. No entanto, João 1 me faz entender que a interpretação supre o que se quer transmitir, independente do que você acredita, e considerar que João 1 não nos transmite que Deus veio em carne, é forçar uma interpretação para se encaixar naquilo que você acredita. Porém, ponto curioso é que ambos são acusados de interpretar textos bíblicos para forçar aquilo que acredita, isso é normal do ser humano, mas a realidade não muda, a verdade não muda, e se João 1 transmite: Deus veio em carne e você interpreta de outra forma para se encaixar naquilo que você acredita, muda-se a realidade e a verdade do que se queria transmitir. E quem fez isso? O próprio Satanás ao tentar Jesus no deserto, pois ele não mudou a interpretação do texto bíblico, mas quis transmitir uma outra realidade, uma outra verdade, que Jesus que já conhecia, não poderia aceitar, mesmo que fosse "convincente" e "coerente".
Outro ponto que temos que levar em consideração, é que a interpretação "coerente" da Bíblia é insuficiente para se conhecer a verdade. Pois, é necessário fé, é necessário crer na própria verdade, isto é, na própria realidade, no que realmente é. Se eu não acredito na verdade, naquilo que realmente é, mesmo a interpretação coerente me levará ao inferno, pois eu não cri no que deveria crer. Ora, temos uma questão bem relevante aqui. Levaria Deus ao inferno se eu cresse de maneira errônea quem realmente é Jesus Cristo? A resposta a essa pergunta pode ser assustadora, pois certamente que sim. Se você creu de maneira errônea em Jesus Cristo, você na verdade não creu nele, e quem não crê nele já está escrito: Está condenado. Mas quem crê nele, já passou da morte para vida. Portanto, não estamos lidando aqui com jogos de interpretações bíblicas, mas estamos lidando aqui com algo fundamental, algo norteador de toda a nossa fé, pois se cremos erroneamente em Cristo, o que nos resta, senão o juízo? Portanto arrependei-vos todos aqueles que assim procedem, se voltem desesperadamente a Cristo e creia que Ele é, porque ele disse: Eu Sou. Renda-se àquilo que realmente Cristo representa e não ao que sua interpretação acha que representa Cristo.