Prezado Norberto e amigos do Fórum
Remeto às Mensagens 75 e 76, das quais transcrevo os trechos abaixo:
Na Mensagem nº 75 Thiago Novais escreveu:
"Os "Filhos de Deus", eram descendentes de Adão e Eva que se mantiveram retos e limpos, não quebrando as leis de Deus nem buscando o que era mau.
As "Filhas dos Homens", com quem eles se casaram, eram descendentes de Caim e seus seguidores, que não observaram as leis de Deus.
Na Mensagem nº 76, Norberto escreveu
Compartilho desse seu entendimento, embora preciso estudar mais (ler com atenção e comparação nas Escrituras) os argumentos novos que estão sendo trazidos pelo Jefté e Lúcio Monteiro e outros participantes, recentemente. Para recordar, vale a pena ler o entendimento de um antigo participante do Fórum Evangelho, que a muitos anos deixou de participar:quem quiser ler, clique aqui. O texto em marrom.
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A fim de descartar tal interpretação equivocada, pergunto:
1) Qual a base bíblica para essa interpretação?
2) Adão não tinha uma só esposa? Por que esses “filhos de Deus”, supostamente cumpridores da Lei, “tomaram para si mulheres entre todas as que escolheram”?
3) E por que os filhos desses “filhos de Deus” só deram para o que não presta, a ponto de nenhum deles ser salvo do dilúvio?
4) E quanto à estatura agigantada dos descendentes desses “filhos de Deus”, de quem eles herdaram essa característica genética? E em que base bíblica você responde?
5) Como é que hoje não há pessoas com essa característica genética, se todos descendem de Sem, Cam e Jafé? Esses não eram "cumpridores da Lei" e "filhos de Deus" segundo essa tese?
6) E por que aqueles “filhos de filhos de Deus” eram também pessoas de agigantado nível de ambição e violência?
7) E por que o narrador abre um parêntesis na narração, transporta-se para o tempo presente e faz uma reflexão: “Esses eram os valentes que houve na antiguidade, os varões de fama” ?
8 ) Os valentes da antiguidade não são conhecidos nas mitologias assíria, egípcia e babilônica, e, mais recentemente, naa medo-persa, grega e romana - como semideuses , filhos de deuses com mortais?
9) Quem não conhece Hércules, Aquiles, Jasão, Perseu, Teseu, etc? São filhos de deuses com mortais.
É possível até que o esqueleto de um desses tenha sido encontrado, mas não identificado. Para detalhes pouco confiáveis, é só clicar no pesquisador do Google: Nefilins.
SOBRE A ARGUMENTAÇÃO DO ZÉ que você nos trouxe no link acima, ele trouxe algumas orientações interessantes para serem observadas na interpretação, mas não as seguiu. Aparentemente, à base de suas afirmações em tom dogmático, deixou-se levar por sua crença preconcebida de que os “filhos de Deus” são os descendentes de Set. Observe:
Para interpretar a Bíblia, devemos tentar ter as mentes iguais àqueles que foram os primeiros leitores do texto, para quem eles foram escritos.
No primeiro momento, não devemos nos preocupar com referências teológicas ou coisas do tipo, mas com o texto e, simplesmente, o texto. Se ainda assim, a dúvida persistir, aí sim devemos nos valer de tais recursos.
Todavia, o texto é bastante claro, e em nenhuma parte, mesmo que por inferência, dá base para se crer que filhos de Deus sejam seres sobre-humanos.
O texto provoca até hoje discussões - penso eu - menos por não ser suficientemente claro e mais pela informação inusitada. Mas, a expressão “os filhos de Deus” - que aparece na Bíblia pela primeira vez em Gênesis 6:2-4 - certamente não foi tirada do nada. Onde é que o escritor – Moisés - foi buscar esta expressão?
1 – Moisés naturalmente sabia que o povo de Israel recém-saído do Egito, no deserto, à caminho da terra prometida – a quem ele dirigia primariamente o relato de Gênesis - entenderia com facilidade a expressão “filhos de Deus”. Afinal, muitas coisas relatadas em Gênesis, inclusive essa história do capítulo 6, era do conhecimento daquelas pessoas, fazendo parte do acervo cultural transmitido oralmente de pai para filho desde os dias do filho de Noé, Sem, cuja vida coincidiu 150 anos com a vida de Abraão. E Jacó, cuja vida coincidiu 15 anos com a de Abraão, e José, cuja vida coincidiu 56 anos com a de Jacó, e que levou as 70 famílias para a terra de Gósen no Egito, onde nasceu Moisés apenas 64 anos depois da morte de José.
2 – A expressão “filhos de Deus” é introduzida em Gênesis 6:2-4 com tanta naturalidade como se os humanos pré-diluvianos estivessem bem familiarizados com ela. Assim, é necessário inferir as partir dos fatos já relatados a razão de tal familiaridade. O que nos salta aos olhos é o versículo que precede o capítulo 4: Ali, se diz que Deus. “havendo lançado fora o homem, pôs querubins ao oriente do jardim do Éden e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida”. (Gênesis 3:24 – Almeida RC).
Durante cerca de 1.500 anos, as populações pré-diluvianas podiam ver com os seus próprios olhos aqueles querubins – que tinham provavelmente a aparência semelhante aos seres humanos, mas não eram filhos de homens – por trás da espada refulgente que se revolvia milagrosamente. O trabalho desses querubins guardiões só passou a ser desnecessário quando o jardim do Éden foi também devastado pelo Dilúvio. A presença contínua de querubins na porta oriental do Éden – talvez num sistema de revezamento – era certamente objeto de comentário das gerações de pessoas pré-diluvianas. Quando pais explicavam aos filhos ou a outros quem eram aqueles personagens, certamente diziam que não eram filhos de homens. Quando se lhes perguntavam: “Então, quem são eles?” É bem provável que os chamassem de “filhos de Deus”, tal é a naturalidade com que a expressão fluiu ao escritor inspirado em Gênesis 6:2-4. Por sua vez, a expressão “as filhas dos homens” é um contraste evidente com a expressão “os filhos de Deus”, indicando que as duas expressões eram utilizadas de modo corrente pela humanidade pré-diluviana.
As próximas ocorrências da expressão “os filhos de Deus” na Bíblia é no Livro de Jó 1:6; 2:1 e 38:7. Muitos eruditos atribuem também a Moisés a escrita do Livro de Jó - figura real que segundo alguns eruditos viveu há cerca de 100 anos antes do Pacto do Sinai - para encorajá-los a enfrentar o sofrimento daqueles dias atribulados no deserto. Assim sendo, serem os anjos de Deus – talvez à semelhança dos querubins do Éden – chamados de “filhos de Deus”, inclusive o próprio Satanás sendo também assim chamado duas vezes, é um testemunho incontestável de que são anjos maus os filhos de Deus de Gênesis, do mesmo escritor de tom patriarcal hebraico e conhecedor de deuses e filhos de deuses egípcios.
A contextualização do relato do capítulo 6 de Gênesis pelo Zé não foi das melhores.
Lembre-se que o capítulo anterior trata das genealogias, ou seja, da multiplicação do homem. Esse versículo só vem confirmar tese de que o tema central do texto é o gênero humano.
Nada mais equivocado. Para efeito de entendimento do relato, a genealogia apresentada em todo o capítulo 5 é apenas um registro, podendo ser suprimida sem qualquer prejuízo. Os capítulos 3 a 4 e 6 é que precisam ser vistos como um todo relatado, e é nesse todo que se discerne o tema central do texto: a queda e degeneração do gênero humano pré-diluviano e suas causas e consequências..
Mesmo assim, vamos analisar o texto versículo por versículo.
1 Como se foram multiplicando os homens na terra, e lhes nasceram filhas,Que o tema central do texto não é simplesmente o gênero humano, salta patente neste primeiro versículo, que é uma oração subordinada que aponta para o real tema do capítulo 6. Ele é destacado em negrito na versão Almeida RC: “A corrupção geral do gênero humano” e suas consequências.
É de se destacar que a expressão “e lhes nasceram filhas” nos faz lembrar que a serpente foi bem sucedida em desencaminhar Adão a partir de sua mulher, Eva (3:1-5). Ele fez isto quando ainda “não lhes nasceram filhas”.
Note-se que foi predito em 3:15 que a serpente produziria uma descendência, ou seguidores, com o mesmo desejo de se tornar, de alguma maneira, deus e pai do gênero humano, como se tornou a “serpente” (João 8:44).
2 vendo os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas, tomaram para si mulheres, as que, entre todas, mais lhes agradaram. Aqui vem a primeira referência aos "filhos de Deus". Seriam anjos? Com certeza, não! Primeiro porque não há nenhuma referência anterior a essa aos supostos anjos como filhos de Deus,
e você há de convir que anjos habitando na terra e possuindo sexualmente as mulheres da época seria um tema importante demais para receber apenas essa nota, ainda que por inferência.
Segundo, e dessa não há como fugir, quando Jesus foi interpelado a respeito de como seria nossa vida conjugal no céu, ele disse que seríamos como anjos e não nos casaríamos e não manteríamos relações sexuais (Mt 22.30). ANJOS NÃO MANTÊM RELACIONAMENTO SEXUAL!!!
Mas, a Bíblia diz que seres espirituais que materializam corpos humanos – como os anjos que apareceram a Abraão e Ló, e como o próprio Jesus, após sua ressurreição como espírito – podem exercer funções humanas como comer e beber – e no caso dos filhos de Deus da época do Dilúvio, de acasalar-se e produzir filhos.
Outros dizem que no AT o termo "filhos de Deus" só é usado para anjos, mas é um erro, vide Is 43.6: "Direi ao Norte: entrega! E ao Sul: não retenhas! Trazei meus filhos de longe e minhas filhas, das extremidades da terra,".
Não há nenhuma referência no livro de Gênesis que ligue a expressão “filhos de Deus” a seres que Deus chama profeticamente de “filhos e filhas” em Isaías 43:6, porque “os remiu”. (43:1). Além disso, todos os “filhos de Deus”, e esposa e filhos, sucumbiram no Dilúvio, não se tratando de descendentes de Set, como o são Noé e família.
É bom frisar que o Livro de Gênesis não diz que Adão e Eva, quando ainda sem pecado, eram filhos de Deus. Nem diz que eram filhos de Deus os seus descendentes, mesmo os que descenderam de Sete – o irmão que substituiu a Abel na linhagem do futuro descendente. De modo que, a partir do livro de Gênesis, não há qualquer razão hermenêutica para se vincular a expressão filhos de Deus aos descendentes de Set.
3 Então, disse o SENHOR: O meu Espírito não agirá para sempre no homem, pois este é carnal; e os seus dias serão cento e vinte anos.
O texto aqui fala a respeito da ação do Espírito em quem? Nos anjos? NÃO! Nos homens. Mas porque Ele afirma isso se não falava de homens no versículo anterior, mas de anjos? Simples, Deus não se referiu a anjos como "filhos de Deus", mas sim a homens e homens que conheciam a Deus. Sabe porque houve a distinção entre a descendência de Sete e de Caim? A Bíblia responde: "A Sete nasceu-lhe também um filho, ao qual pôs o nome de Enos; daí se começou a invocar o nome do SENHOR." - Gn 4.26. A descendência de Caim não invocava a Deus, só a descendência de Sete temia e invocava o nome do SENHOR!
É que o versículo anterior se referia tanto às filhas dos homens como aos “filhos de Deus”. Visto que só estava em pauta a decisão de Deus de destruir a humanidade – mas não os anjos – em 120 anos, o SENHOR se limitou a afirmar que seu Espírito não agiria para sempre [“por tempo indefinido” – NM] no homem. Note que Deus explicou por que só agiria contra os homens nessa ocasião: “... porque ele é também carne” (Almeida RC). Dá para se inferir claramente que Deus não agiria já contra os “filhos de Deus” porque eles são “espíritos”, cuja condenação só seria desejável após a produção das provas de que a acusação de Satanás contra Deus são falsas (ver livro de Jó).
4 Ora, naquele tempo havia gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus possuíram as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos; estes foram valentes, varões de renome, na antiguidade.O termo em hebreu "nephilim" (gigante) não implica, necessariamente, na idéia de grande em estatura, ele tem a mesma conotação de "gib-bo-rim" (valentes ou poderosos). Não são seres sobrenaturais. Em outros textos o termo para gigante é "Rephaim", muito mais ligado ao aspecto físico.
A existência de fósseis desses nefilins ou gigantes é facilmente comprovada, bastando o interessado escrever no pesquisador do Google: Nefilins.
A alusão bíblica a serem eles valentões, desejosos de terem muitas mulheres e filhos, e muita fama e poder, só nos lembra a descendência da serpente, que também os induziu a quererem ser como deuses.
5 Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração; Aqui termina o contexto e o argumento que diz que aqueles eram seres sobrenaturais. O texto continua falando de homens e não de outras criaturas. Deus viu que a corrupção chegara a todas as classes de pessoas, até na descendência de Sete e Enos, a qual havia começado a invocar o Seu nome.
Evidentemente, o livro de Gênesis foi feito para dizer primariamente o que ocorre com os homens quando se desviam de Deus. Por isso, não se detém Gênesis a discorrer prematuramente sobre o que acontecerá com os anjos que pecaram, no Éden e nos anos pré-diluvianos. Mas, o que ocorreu nos dias pré-diluvianos e qual é a punição que está reservada àqueles anjos que pecaram está claramente recapitulado em 1 Pedro 3:18, 2 Pedro 2:4-5 e Judas 6. Não se pode então afirmar que o assunto não mereceu a devida atenção no momento oportuno.
Não há nada que faça pensar que essa pequena inferência dentro do contexto fale de anjos. Agora, tirando o texto do seu contexto original, eu te faço crer que se tratam de plantas carnívoras que eram o elo perdido entre a evolução dos vegetais para os seres animais...
Prezado Zé: Depois dessa análise, é bem mais fácil crer que "os filhos de Deus" ou seus filhos nefilins estão relacionados a "seus filhos são plantas carnívoras que eram o elo perdido entre a evolução dos vegetais para os seres animais" - como você opinou - do que acreditar que é o texto que não lhe deixa admitir que os filhos de Deus são os anjos que pecaram.
Que o espírito santo de Deus nos convença!
Lúcio