Diego, paz!
Entendo perfeitamente o que você diz.
Por exemplo. É curioso, muito curioso mesmo, o Jefté se queixar da sua proposta da não necessidade de termos a palavra original como chave da questão. Ele mesmo vive reclamando, como outros, quando nós fazemos uso do grego para mostrar algum tropeço dos defensores do dogma trinitário. Parece que agora fica claro que só é interessante quando esse uso, supostamente, o favorecer. Mas é ilusão, pois o estudo dos originais nessa questão desfaz, justamente, a alegação de que os originais favorecem o dogma. Eu mesmo ouvia muito dizer que “morphê” significa “atributos essenciais” e eu descobri que isso, em termos de Bíblia, é um absoluto engano.
Concordo com você que, no caso de Fp. 2.6, não precisamos do grego para entender a questão. Basta vermos, nas palavras do professor Azenilto, o CONTRASTE entre “forma de Deus” e “forma de servo”. Ora, “forma de servo” NÃO PODE ser sinônimo de “natureza de servo”, ou “essência de servo” ou, ainda, “atributos essenciais de servo” como se a palavra“SERVO” fosse a designação de um ente com vida própria e que por si só teria natureza própria. Não há como alegar que a palavra “SERVO” designe um ser que tem natureza, essência e/ou atributos essenciais. Se o PARALELISMO é possível e REAL, conclui-se, com algum grau de facilidade, que “forma de Deus” não está se tratando da “natureza”, “essência” ou “atributos essenciais” de Deus (O Ente). Nem a palavra “Deus” ali significa o Altíssimo; assim como em “forma de servo” a palavra “servo” não significa, previamente, alguém. Isso é outro problema que os irmãos trinitarianos precisam aprender a lhe dar. “Forma de Deus” e “forma de servo”, são estados e não, forçosamente, condições inerentes. Esquecem sempre que a palavra “Deus” é uma polissemia e como tal, nem sempre se faz referência ao Ente Supremo. Yahweh disse para Moisés que ele seria DEUS (Elohim) sobre o Egito. .
Quando um unitariano precisa fazer referência ao original grego é para denunciar a manipulação existente em favor do dogma, pois, nesse caso, os léxicos, apenas alguns, apresentam “forma” como “atributos essenciais”. Mas eles não deduziram esse sentido a partir da Bíblia, mas a partir de antigos usos filosóficos que não se firmaram como definição nem mesmo na filosofia e que não se confirma que na época do NT esse uso estava em voga, nem nos meios filosófico e muito menos fora dele. Digo isso porque esse argumento já foi levantado por aqui. O uso bíblico para a palavra “forma” não confirma “atributos essenciais”. Por exemplo, quando a Bíblia diz que Jesus apareceu noutra forma para os discípulos, após a ressurreição, não se trata de atributos essenciais, foi, simplesmente, outra aparência. Quando a Bíblia critica, em outro momento, a aparência de piedade de alguns, ela usa tanto em uma passagem como outra variações de “morphê”. É muito difícil concluir, do ponto de vista puramente bíblico, que “aparência de piedade” de quem não tem piedade seja uma confirmação de algum atributo essencial nessa pessoa, se não, simplesmente, aquilo que se percebe na pessoa.
O próprio Azenilto, citou que no verso 8 a palavra é “skema”, mas não se deu conta do que essa distinção significa. Note-se que “forma de Deus” foi CONTRASTADA com “forma de servo”, não com semelhança do esquema humano que ele assumiu para dar cabo a forma de escravo proposta. Se assumir a humanidade era o único caminho possível para a humilhação servil pode-se questionar (poderia existir, talvez, outros caminhos), mas, certamente, era o necessário para o propósito da redenção.
Diego, também concordo contigo que se entendermos corretamente a referência a usurpação, a questão está liquidada no que se refere ao requerimento de deidade de Jesus por causa da ocorrência da palavra “Deus” ali em Fp. 2.6. Na verdade, há vários pequenos detalhes a considerar. Por exemplo, a expressão “forma de Deus” é sempre lida como equivalente a “o próprio Deus” pelos trinitarianos. O uso da palavra “usurpar”, amenizada para “apegar-se”, quando corriqueiramente palavras com a mesma raiz é a usada para “roubo” no Novo Testamento. A palavra “sendo” é requerida como se fosse a afirmação de um “estado eterno”, como já foi requerido em outro momento, mas basta lermos Rm. 4.19, para ver que não é. Ali “pois tinha quase cem anos” é “sendo de quase cem anos”. Certamente o quase, chegaria e passaria dos cem anos. Não se representa um estado eterno em cem anos, por causa da palavra "sendo".
Assim como você, tenho tido dificuldades de me ver incentivado a participar de certos debates. Às vezes posto tentando auxiliar algum entendimento, mas certamente a cosmovisão que o indivíduo tem no momento afeta a compreensão do que falamos. Hoje, minha visão do monoteísmo (ou minha própria cosmovisão, depois de sair de uma cosmovisão trinitária), não me permite achar que Deus seja um ente plural, pois além das alegações bíblicas de que ELE é UM, em que diferiria de politeísmo? A mera alegação de que todos são uma mesma substância, ainda que indivíduos distintos? Ser três, dez ou mil, ou, ainda, milhões mudaria alguma coisa? Ele pode ser 1.000 ou 1.000.000, se for considerado, convencionalmente como os trinitários convencionam, como uma substância, então, será, “legitimamente”, o mesmo Deus. O contraste numérico serve para mostrar o problema, já que três parece ser um número mais "aceitável", mas no arranjo das "essências" (homoousios) o número de cultuáveis como se fosse um não é problema. Seria um politeísmo legitimado pela alegação de serem participantes da mesma natureza ou essência.
De qualquer forma, parece-me que a essa altura, o que querem é saber de que Jesus se esvaziou, desvinculando, pelo menos, por agora, a questão da trindade. Talvez para retomar depois. Nesse sentido os próprios trinitários podem opinar também. O que parece certo, até o momento, é que Fp. 2.6 NADA fala da suposta deidade de Jesus, se não, pela construção produzida pelos defensores do dogma.
Paz!
Valdomiro.