Demar,
Obrigado pela gentileza de sua resposta. Permita-me tecer algumas considerações, tendo em mente que o que eu pedi foi:
1. Gostaria de ver um texto bíblico em que ocorre o termo livre-arbítrio.
2. ...serve um texto em que ocorre um sinônimo de livre-arbítrio.
3. ...um texto em que o conceito de livre-arbítrio é necessário para que o texto faça sentido.
Vamos trabalhar com a sua definição de livre-arbítrio, ou seja, "poder que possui a vontade de se determinar de MODO LIVRE". Pois, vamos adiante.
À primeira pergunta você respondeu "e eu gostaria de ver textos bíblicos em que existam as expressões: “bicicleta”, “Internet”, “avião”, “telefone”, “eletricidade”". Pela sua resposta, concluo que não existe a expressão livre-arbítrio na Bíblia então você apela para outras palavras que também não estão ali. O que eu peço é que você considere as classes de palavras que você menciona, destaco dois aspectos: são produtos tecnológicos descobertos ou inventados bem depois da criação e queda do homem e, são coisas e não alegadas faculdades humanas. Se alguém me dissesse que uma faculdade humana é "bicicleta" ou que a "alma tem eletricidade", então penso que não seria demais pedir que me mostrasse na Bíblia esses termos.
Quanto ao segundo pedido, você disse que "mesmo que a expressão moderna "livre-arbítrio" não exista na Bíblia, a existência dele é FATO NOTÓRIO (que não precisa ser provado...)". Bom, já não estou mais pedindo a ocorrência do termo livre-arbítrio, mas sim de um sinônimo dele. Mas você não tem nenhum sinônimo de livre-arbítrio para apresentar, então diz que a existência dele é fato notório. Isto pode até existir no direito civil, mas quando se trata de doutrina não existe fato notório, tudo tem que ser provado pela Escritura. Notório é algo que é evidente, mas quando se trata de doutrina, esta deve ser evidente na Escritura e não na cabeça do intérprete. Por exemplo, se eu lhe disser que "é evidente ou notório que o homem é uma unidade dicotômica", espera-se que eu tenha pelo menos meia dúzia de textos bíblicos que provem isso. Você diz, ainda, que livre-arbítrio é "liberdade de resolução", "deliberação que depende só da vontade", etc., mas essas expressões tampouco ocorrem na Bíblia.
Vamos ao terceiro pedido. Você apresenta alguns textos que, suponho, acredita que o conceito de livre-arbítrio seja necessário para que o mesmos, por exemplo, Gl 6:7; Sl 28:4; Ap 22:12; 2Co 5:10 e Ez 12:2. Mas será que realmente uma vontade livre, com poder de auto-determinação, é necessário para explicar esses versículos? Vejamos.
A partir das palavras "o que o homem semear, isso também colherá" (Gl 6:7) você conclui que o livre-arbítrio nada mais é que a lei da semeadura e da colheita, conceito este defendido pelo espíritas. Mas será que a semeadura depende da vontade ou do estado da pessoa? Vejamos o verso seguinte, que diz "o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna. (Gl 6:8). O mesmo princípio vemos em Romanos, "os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito" (Rm 8:5), portanto, a semeadura para a vida ou para a morte não depende da vontade livre, e sim da pessoa estar na carne (não regenerada) ou no Espírito (nascida de novo), pois "os que estão na carne não podem agradar a Deus" (Rm 8:8). Quando você identifica livre-arbítrio com a lei da causa e do efeito, você torna sua definição de livre-arbítrio contraditória.
O salmista ora dizendo "dá-lhes segundo as suas obras e segundo a malícia dos seus esforços; dá-lhes conforme a obra das suas mãos; torna-lhes a sua recompensa" (Sl 28:4) e será que é obrigatório que tais ímpios tenham uma vontade-livre? Ao contrário, o contexto deixa claro que eles tinham uma vontade escrava, escravizada ao pecado. O texto diz que eles "têm mal nos seus corações" (Sl 28:3). O coração, na Bíblia, é o mais íntimo do ser, a origem de tudo. Se o coração está contaminado com o pecado, então nada procede da pessoa que seja boa diante de Deus. Portanto, a vontade do pecador não é livre de determinação, mas é condicionada pela maldade de seu coração.
Quando Jesus diz "o meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra" (Ap 22:12; Cf 2Co 5:10) está referindo-se a crentes, os quais tiveram suas vontades renovadas quando foram tornados "feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas" (Ef 2:10). Como crentes, sabemos que "Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade" (Fp 2:13). Portanto, não poderemos nos gloriar de fazer boas obras, pois não foi a nossa própria vontade, mas a vontade de Deus sendo realizada em nós que produziu o bem que fizemos. Então, por que os galardões? graça, meu irmão, pura graça.
Finalmente, você cita Ezequiel que testemunha sobre Israel "que tem olhos para ver e não vê, e tem ouvidos para ouvir e não ouve" (Ez 12:2). Isso prova ou requer que a vontade do homem seja livre? De jeito nenhum só prova que são casa rebelde. Será que depende do poder de autodeterminação de suas vontade o ouvir e ver? Ou da operação milagrosa do Senhor? Vejamos: "Porém não vos tem dado o SENHOR um coração para entender, nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir, até ao dia de hoje" (Dt 29:4). Isaías já proclamava "...ele virá, e vos salvará. Então os olhos dos cegos serão abertos, e os ouvidos dos surdos se abrirão" (Is 35:4-5).
Concluindo, você falou, falou, falou e não mostrou onde a Bíblia diz que o homem tem livre-arbítrio, não apresentou nenhum sinônimo de livre-arbítrio e tampouco passagens bíblicas que mostram que a vontade do homem tem o poder de auto-determinação.
Em Cristo,
Clóvis