Samuel, Paz!
Você perguntou:
Como vocês Unitaristas interpretam estes versículos?
“Eu e o Pai somos um” (Jo 10.30) – Este verso precisa ser lido ao lado de Jo. 17.21 “para que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti, que também
eles sejam um em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. 22 E eu lhes dei a glória que a mim me deste, para que sejam um,
como nós somos um.” Fica fácil perceber que a afirmação de Jesus em João 10.30 não visa uma identificação da deidade, pois doutra sorte os discípulos também seriam Deus já que eles seriam um no Pai e no Filho como eles são um.
“Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou” (Jo 1.18) – Esse texto, com essa redação não consta em todos os manuscritos gregos (consta em apenas dois). Na verdade, faz parte do TC (Texto Crítico Grego) não porque seja o texto mais provável, mas porque é o texto mais difícil. Por causa das regras de elaboração do TC ele aparece em algumas bíblias. Outros manuscritos trazem “O Filho Unigênito que está no seio do Pai.” Há trinitários que consideram esse texto (Deus Unigênito) meio gnóstico pois fala de Deus como sendo "Deus Unigênito", mas Deus deve ser ingênito, não unigênito. O Filho sim, pode ser unigênito.
“Respondeu-lhe Tomé: Senhor meu e Deus meu!” (Jo 20.28) – No evangelho de João, sempre que alguém se refere a Jesus como Senhor, falando com ele e para ele, usa o vocativo grego. Ali está o nominativo, que é caso do declarativo. (Obs. às vezes se usa o nominativo com valor de vocativo, mas isso não ocorre quando alguém se refere a Jesus no evangelho de João). Tomé pode, simplesmente, ter recitado um treco do Sl 35:23 “Acorda e desperta para o meu julgamento, para a minha causa,
Deus meu, e Senhor meu.” (um cântico diante da maravilha ocorrida). Além do mais, poucos versos antes Jesus havia mandado dar um recado aos discípulos afirmando que ele mesmo tinha um Deus, de sorte que Tomé não poderia estar contrariando o próprio Jesus.
“... e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as cousas, e nós também, por ele” 1Co 8.6) – Aqui faltou a primeira parte do verso que diz: “Para nós há UM só Deus, O PAI”. Na “escala” de poderes, O Pai vai até a Deidade, o Filho até o Senhorio, e mesmo assim esse senhorio é constituído pelo Pai: At 2:36 “Saiba pois com certeza toda a casa de Israel que a esse mesmo Jesus, a quem vós crucificastes,
Deus o fez Senhor e Cristo.”
“Mas acerca do Filho: O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre...” Hb 1.8 – Esse texto de Hebreus é citação do Sl. 45. Ali, no Salmo, se fala de um rei (leia o verso 1), de quem se diz ter uma rainha e donzelas à disposição. O verso 7 do Salmo que é logo posterior a essa referência de Hebreus, diz que Deus, o Deus dele o ungiu; logo, o verso 6 citado em Hb. 1.8 não é uma referência a Deus (o Altíssimo), mas a palavra ali é usada como um título protocolar para o rei, pois se esse Deus fosse o Altíssimo, não poderia ter um Deus acima dele com é afirmado no verso 7 do Sl. 45, até porque Deus não precisa ser ungido, mas um rei é ungido.
“... estamos no verdadeiro, em seu Filho, Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1Jo 5.20) – O verso diz que Jesus veio dar a conhecer o Verdadeiro. Ora, o que diz Jo. 1.18 citado por você mesmo, mas com a redação “Filho unigênito”, não é que este veio dar a conhecer o Pai? Se você estiver pensando no pronome “ESTE” você precisa saber que HOUTOS que é o pronome grego ali empregado, traduz-se por “este” ou “ESSE”. E o pronome “ESSE” é muito mais contextual ali. Se nos lembrarmos que o verso diz que “estamos em SEU Filho”, poderemos nos perguntar a quem esse possessivo (SEU) se refere no verso, se não ao Verdadeiro a quem o Filho veio dar a conhecer?!!! Considere que foi João mesmo que escreveu as palavras de Jesus ao afirmar, em Jo. 17.3, que só o Pai é o Único Deus Verdadeiro. Ele, não pode dizer que é SÓ O PAI e depois dizer que é TAMBEM o Filho, sem se contradizer. Se você não estivesse motivado em defender o dogma trinitário, quem você diria ser o Deus Verdadeiro tanto em Jo. 17.3 quanto em I Jo. 5.20, depois dessas informações?
“Aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus” (Tt 2.13) – Aqui é uma opção do tradutor. A tradução pode ser “grande Deus e DO Salvador Cristo Jesus” como ocorre em 2Ts 1:12 “para que o nome de nosso Senhor Jesus seja glorificado em vós, e vós nele, segundo a graça de
nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo.” Se nos lembrarmos que Paulo escreve quase 150 (Cento e cinquenta) versículos fazendo distinção sistemática entre Deus e Jesus, não há razão para não entendermos Tt. 2.13, nesse mesmo espírito, como “grande Deus e DO Salvador Jesus Cristo”.
“Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as cousas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas” (Ap 4.11) – O texto não se refere a Jesus. Se você estiver fazendo referência por causa da criação, lembre-se que está escrito: Ef 3:9 “E demonstrar a todos qual seja a comunhão do mistério, que desde os séculos esteve oculto em
Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo;” ou Hb.1 “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias
pelo Filho, 2 A quem constituiu herdeiro de tudo,
por quem fez também o mundo”. Jesus não é o autor, mas o meio pelo qual as coisas foram criadas.
Caro irmão, trouxe essas respostas em consideração, mas não prossigamos nessa questão aqui, pois estaríamos fugindo do tema.
Paz seja contigo!
Valdomiro.