Caro Guilherme, Paz!
Grato pela resposta.
Olha, eu apenas resolvi trocar algumas postagens contigo porque percebi que com sinceridade você defende a deidade de Jesus, ao mesmo tempo em que sei que esses versos que você indica não atestam o que você hoje acredita que eles atestam. Simplesmente, ao que parece, não te foi mostrado ainda o que realmente esses textos querem dizer. Minha intenção, não é nem propriamente debate contigo, mas apenas mostrar onde reside o problema e deixar você tirar suas próprias conclusões.
Veja, Jesus não falou que era Deus simplesmente porque não era. Pois ele disse aos discípulos : “Vos me chamais de Mestre e Senhor, e dizeis bem porque eu sou”. Então, ele, ao menos para os discípulos, não negou sua identificação, mas não o fez dizendo que era Deus.
As tentativas de apedrejamento ou foram por entendimento errado dos fariseus, ou por ódio e inveja.
Mas, vamos aos textos.
Você citou Isaías, mas note que está dito “o seu nome será”. Como algo que já era (se teu entendimento estivesse certo) ainda iria ser? Mas, o detalhe aqui é que Isaías 9.6 trata de um nome.
Os nomes hebraicos, muitos deles, são teofóricos, ou seja, são homenagens a Deus. Por exemplo Eliás, significa “Yahweh é Deus”. Jeú significa “Yahweh é ele”. Mas, nem Elias, nem Jeú eram Yahweh. Se você pegar um livro que mostre o significado dos nomes bíblicos concluirá que há vários que, a partir dessa perspectiva que tomam de Is. 9.6, seriam candidatos a ser Deus por causa de seus nomes.
Considere que tanto o Renovo (Jesus), Jr. 23.6, quanto Jerusalém, Jr. 33.16, foram chamados de “Yahweh é a nossa justiça”. Se fosse só Jesus, e nada se falasse de Jerusalém, diriam que isso era uma prova de que ele era Yahweh no A.T, mas como Jerusalém também foi chamada pelo mesmo nome as pessoas não podem usar isso como prova e poucas pessoas sabem desse fato.
Portanto nomes teofóricos não provam que Jesus é Deus.
Partindo para Rm. 9.5, não é uma revelação claríssima da Divindade de Cristo como você sugere. O problema é considerar uma única tradução como fonte de conhecimento, quando o original precisa ser considerado também.
Veja, por exemplo, o comentário que se segue:
O gramático de grego, Robert H. Mounce comentando sobre pontuação e silabificação nos textos gregos relembra que nos manuscritos antigos, os unciais, não haviam pontuação ou divisão de versículos e “esse fato criou algumas dificuldades para os estudiosos contemporâneos, visto que o modo de um versículo ser pontuado pode ter efeito importante sobre a sua interpretação. Um dos exemplos notáveis disso é Romanos 9.5. Se uma pausa maior for feita depois da κατὰ σάρκα (lit. “segundo a carne”), a parte final do versículo seria uma declaração a respeito de Deus Pai (A NEB traz: “Que Deus, supremo sobre todos, seja abençoado para sempre! Amem”). No entanto, em se fazendo uma pausa menor naquela posição, as palavras finais da frase falariam de Cristo. A NVI diz: “[...] de Cristo, que é Deus acima de tudo, bendito para sempre! Amém” (Mounce, William D. In Fundamentos do Grego Biblico (Livro de Gramática) 1º Edição – 2009, pág. 17) e conclui “O modo de a tradução lidar com um versículo ambíguo tal como esse revela as tendências teológicas do tradutor”. Roger L. Omanson concorda com isso e expõe prós e contras para as duas linhas de pensamento. Como é uma obra trinitária sugere que o texto esteja se referindo a Jesus, ainda que admita: “em nenhuma outra passagem das cartas de Paulo (isto é, nas cartas que, segundo os eruditos, são genuinamente paulinas – em geral se entende que Tt 2.13 não é texto de Paulo) ὁ Χριστός é chamado de θεός. A partir de uma perspectiva geral da teologia de Paulo, é difícil imaginar que o apóstolo teria verbalizado a grandeza de Cristo dizendo que ele é Deus bendito para sempre”. (Variantes Textuais do Novo Testamento, Roger L. Omanson, Sociedade Bíblia do Brasil & Deutsche Bibelgesellschaft, 2010 - Pág. 312 a 314)
Considere, ainda, que foi Paulo quem escreveu Rm. 9.5 e vale a pena você estudar como Paulo identifica Deus e Jesus em toda sua obra. Busque verificar se ele (Paulo) fazia isso intercambialmente considerando ambos o mesmo Deus, ou se para ele, que conheceu Jesus já após a ressurreição, sempre reconhecia a Deus como o Pai e a Jesus como Filho desse Deus. Muitas vezes Paulo usa a expressão “O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo”
Para mais detalhes sobre isso acesse, por favor, o link http://www.unitarismobiblico.com/1/?p=637
Quanto à Gn. 1.26 há duas coisas a dizer:
Primeiro: Embora o verbo esteja no plural, isso não condiciona que ali estivesse mais de um. Artaxerxes (Ed. 4.18, 7.21,24) e Daniel (Dn. 2.36) usaram verbos no plural para fala deles mesmos. Então Gn. 1.26 ou outro versículo que apresente um plural, não prova que se estivesse falando de alguma pluralidade em Deus. A propósito são absolutamente raros, talvez 4 ou 5, em um universo de mais de 2.400 vezes que o verbo, pronome e etc estão no singular com relação a Deus. Portanto não podemos transformar a exceção em regra. Esta seria uma consideração: O verso por si só não ensina nem a trindade, nem a pluralidade em Deus, mesmo que ele estivesse com mais alguém. Um trinitário por já acreditar na trindade infere que ali se esteja falando da trindade, quando nada sugere isso. Como eu disse, o pensamento trinitário tem que ir na frente da leitura para que se ventile essa ideia naquele texto.
O segundo ponto nessa questão é que a Bíblia não chama Jesus de criador, mas através de quem as coisas foram criadas. Hb. 1.1.2 diz “por meio de quem também fez o universo”(Almeida Sec.XXI). Nesse sentido Jesus é o instrumento de Deus e não o próprio Deus. Cristo é o intermediário, não o criador, veja Jo. 1.3 “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito existiria”. Veja também Ef. 3.9: “E demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo” (Almeida ACF).Vale lembrar que Gênesis não trata da criação das coisas espirituais, mas do universo físico e da terra.
Praticamente todos os versos que você cita, já foram abordados aqui em vários tópicos, mas como eu disse, acho que você tem o direito de saber que não há verso na Bíblia que ensine a trindade. As pessoas que já acreditam na trindade é que buscam ver ali, digo respeitosamente, alguma sombra dela.
Juntando o que foi exposto aqui e há mais a se falar, com aqueles versos que citei, e ainda há outros, não há como defender a existência de uma trindade.
Paz seja contigo!