O que tem Mat. 28:19 a ver com a discussão se o homem tem natureza holística ou dualística? E onde esta passagem, em isolamento, apresenta uma mensagem errada, anticristã? Afinal, é para sair e pregar o evangelho por todo o mundo, fazendo discípulos, ou não?
Mas, vamos avançar. . .
Vejamos o que eruditos de várias confissões, além dos adventistas, dizem sobre esse ensino de origem pagã da imortalidade da alma. Primeiro, as palavras de Herman Hoeksema, erudito reformado:
"A assim-chamada imortalidade da alma é um erro para o qual não há um item de prova na Palavra de Deus; a qual, pelo contrário, é condenada por toda a Escritura. É uma daquelas doutrinas que foram herdadas pela Igreja da filosofia platônica, que foram simplesmente recebidas acriticamente e sem ser julgada à luz das Escrituras" -- Reformed Dogmatics (Reformed Free Pub. Assoc.), pág. 208.
Eis o que o teólogo luterano Helmut Thielecke também disse:
"A justiça que é válida diante de Deus não é uma qualidade de mim mesmo em virtude da qual sou justo, mas a qualidade de Deus por virtude da qual ele me torna justo. Lutero descreveu esta realidade factual em ambos os aspectos (como justiça e como vida). . . . Destarte, nossa justiça é a qualidade de outro. É uma justiça de fora (aliena justitia). . . .
"A noção da infusão também produz necessariamente desde a mesma raiz uma nova doutrina de imortalidade, que deve operar com a idéia de que a alma cheia agora da substância divina da graça, ministrada como se fosse com zoe, não pode sucumbir à morte, mas deve sobrevivê-la.
"Em contraste, a fé bíblica redescoberta por Lutero reconhece que tanto a justiça como o zoe [a vida] permanecem exclusivamente à disposição de Deus, e que eu participo nelas somente até o grau que se me concede companherismo pessoal com Deus em Cristo: isto é, concedido a mim por nenhuma razão intrínseca. . . .
"Segue-se então que, mesmo sob o aspecto duma máscara biológica, não me atrevo a considerar minha morte como algo que já não afeta ao meu eu verdadeiro, dado que sou imortal, mas que se move passando por alto minha alma. Não, todo o meu ser vai à morte. Nada me dá o direito de rechaçar a totalidade do homem, a qual proclamam as Escrituras em conexão com o desastre da morte, e dividi-la de repente em corpo e alma, num elemento do eu perecível e outro do eu imperecível. Mas como cristão eu vou a essa morte com a confiança completa de que não posso permanecer ali dado que sou um a quem Deus chamou por nome e que, por conseguinte, serei chamado de novo no Dia de Deus. Estou sob a proteção do Ressuscitado. Não sou imortal, mas espero minha própria ressurreição. . . .
"Neste ponto o entendimento biblico do reformador com respeito à justificação alcança seu ponto culminante. Justamente assim como me apresento com mãos vazias diante de Deus e permaneço em pé, justamente como só posso implorar a Deus que me aceite, assim somente deste mode me dirijo à morte com mãos vazias e sem nenhuma substância imortal em minha alma, mas somente com meu olhar dirigido à mão de Deus e com a petição em meus libios, ‘Mão que perdurarás, sustém-me ainda mais’.
"Ao morrer venho diante de Deus, que sustém em suas mãos não só o juízo como também a vida, e venho com a confiança de que não tenho necessidade de confiar em minhas boas obras nem em minha alma imortal. De fato, não me atrevo sequer a confiar nelas (dado que aquelas não são boas e a outra não é imortal. . . -- Helmut Thielecke, Death and Life (Philadelphia: Fortress, 1970), p. 196-199.
E tem mais:
Anders Nygren, em seu livro Eros and Agape (Harper & Row), diz:
"A idéia de imortalidade da alma ofende primariamente porque é uma expressão da insolência humana para com Deus. Para a fé cristã, a salvação da morte é um ato poderoso de Deus; na visão platônica, helenística, a imortalidade é uma posse nativa da alma humana. Mas tal doutrina, de uma perspectiva cristã, está em linha direta com a Queda; é a tentativa do homem de tornar-se semelhante a Deus; é um ataque à divindade de Deus. Em vez de obter a vida eterna da mão de Deus como um dom de seu imerecido Agape, o homem insiste de que ele a possua em seu próprio direito em virtude da naturza divina da alma. É por isso que a idéia é blasfema". -- Op. Cit., Pág. 281.
E MAIS ANTIGOS:
O mártir Tyndale, referindo-se ao estado dos mortos, declarou:
“Confesso abertamente que não estou persuadido de que eles já estejam na plena glória em que Cristo Se acha, ou em que estão os anjos eleitos de Deus. Tampouco é isto artigo de minha fé; pois, se assim fosse, não vejo nisto senão que o pregar a ressurreição da carne seria coisa vã”.— Prefácio do “Novo Testamento” (edição de 1534), de Guilherme Tyndale.
É fato inegável que a esperança da imortal bem-aventurança ao morrer, tem determinado generalizada negligência da doutrina bíblica da ressurreição. Esta tendência foi notada pelo Dr. Adão Clarke, que disse:
“A doutrina da ressurreição parece ter sido julgada de muito maiores conseqüências entre os primeiros cristãos do que o é hoje! Como é isto? Os apóstolos estavam continuamente insistindo nela, e concitando os seguidores de Cristo à diligência, obediência e animação por meio dela. E seus sucessores, na atualidade, raras vezes a mencionam! Pregavam-na os apóstolos, nela criam os primitivos cristãos; pregamo-la nós, e nela crêem nossos ouvintes. Não há doutrina no evangelho a que se dê maior ênfase; e não há doutrina no atual conjunto dos assuntos pregados, que seja tratada com maior negligência!”— Comentário Sobre o Novo Testamento, vol. 2 (acerca de I Coríntios 15).
O autor do Comentário acima referido explica as palavras de Paulo: “Para todo o fim prático de consolação, a doutrina da bem-aventurada imortalidade dos justos toma para nós o lugar de qualquer doutrina duvidosa acerca da segunda vinda do Senhor. Por ocasião de nossa morte o Senhor vem a nós. É isto que devemos esperar e aguardar. Os mortos já passaram para a glória. Não esperam a trombeta para o seu juízo e bem-aventurança.”
A teoria da imortalidade da alma foi uma das falsidades que Roma tomou emprestadas do paganismo, incorporando-a à religião da cristandade. Martinho Lutero classificou-a entre as “monstruosas fábulas que fazem parte do monturo romano dos decretos”.— O Problema da Imortalidade, de E. Petavel. Comentando as palavras de Salomão no Eclesiastes, de que os mortos não sabem coisa nenhuma, diz o reformador:
“Outro passo provando que os mortos não têm. . . . sentimento. Não há ali”, diz ele, “deveres, ciência, conhecimento, sabedoria. Salomão opinou que os mortos estão a dormir, e nada sentem absolutamente. Pois os mortos ali jazem, não levando em conta nem dias nem anos; mas, quando despertarem, parecer-lhes-á haver dormido apenas um minuto”. – Exposição do Livro de Salomão, Chamado Eclesiastes, de Lutero.