A maneira dócil, inteligente e respeitosa de suas intervenções até agora, caro Clayton, já está sendo uma contribuição importante, não acha?
Muitos sentem o assunto da mesma maneira que você, prezado Clayton. Que acha: o entendimento e sentimento dessas pessoas sobre o significado dos termos gerar e criar originam-se do que aprenderam em dicionários, em fontes religiosas ou nas escrituras?Clayton escreveu:Quando João diz: Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos. 1 João 4:9 Eu honestamente, não consigo interpretar este texto dizendo que Deus manifestou seu amor para conosco enviando o seu primeiro criado para que nele vivamos. O amor de Deus neste texto e em outros consiste no entregar a um considerado filho, e este que é considerado filho, é considerado filho gerado, não adotivo. Nosso entendimento difere ... na natureza do filho.
O Credo de Nicéia, retocado em Constantinopla em 381 EC, impregnou no inconsciente coletivo uma frase controversa ao fazer as pessoas repetirem diuturnamente que Jesus foi “gerado, mas não criado”. Esta frase de efeito gerou dúvidas na mente da posteridade quanto a se Jesus foi gerado ou criado. Por outro lado, criou uma certeza de que Jesus ou foi gerado ou foi criado. A opção que restou esquecida no debate é a única que tem respaldo nas escrituras: Jesus foi gerado e criado.
Em várias ocasiões, as escrituras mostram que o ato de geração é pontual, mas o de criação é processual. Em Mateus 1:20, disse o anjo a José: "O que nela [em Maria] está gerado é do Espírito Santo”. E em Hebreus 1:5, Paulo repete o que Deus disse sobre o Filho: : “Tu és meu Filho, hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe serei por Pai, e ele me será por Filho”.
Portanto, Clayton, biblicamente falando, pode-se analiticamente afirmar-se que gerar é conceber, e criar é desenvolver o que foi gerado ou concebido. Na cultura judaica, é o homem que gera. Vide as genealogias de Mateus e de Lucas. O homem gera a vida de uma pessoa no ventre de uma mulher, e a mulher permite que essa vida se desenvolva e que seja criado um bebê. É por isso que dizemos que foi Deus quem nos criou. “Bem-aventurado o ventre que vos trouxe e os seios que vos amamentaram”, disse uma mulher a Jesus. Ela não se referiu ao ventre que gerou o gerou, mas que o trouxe.
Além de informar em várias ocasiões que o Filho foi gerado, a Bíblia também inform claramente que Jesus é o princípio da criação de Deus (Apocalipse 3:14) e “o primogênito de toda a criação” (Colossenses 1:15). Quando comparado à sabedoria, que Paulo diz ser Jesus, o texto de Provérbios 8:22 diz:
O Senhor ["Jeová", Versão Brasileira] me criou como a primeira das suas obras, o princípio dos seus feitos mais antigos (Versão Almeida, Edição Revisada).
Quando João diz que o amor de Deus para conosco se manifestou no fato de Deus ter enviado seu Filho unigênito (monogenes, único em sua espécie) ao mundo, sua intenção clara é de realçar o amor de Deus por nós, por destacar não apenas aquilo que há de mais significativo e precioso em sua dádiva, mas sua singularidade. Se João tivesse dito que o amor de Deus se manifestou por nos enviar o primogênito de sua criação ao mundo, ainda que fosse a primeira e a mais importante entre muitíssimas outras, restaria apenas implícita em outros textos a singularidade de seu filho unigênito.
Por exemplo, Clayton: se um pai tem um único filho e cem netos e bilhões de descendentes, quem é mais precioso para o Pai: seu único filho ou seus bilhões de descendentes? João destacou que Deus nos amou tanto que nos deu aquele que é mais importante de que a soma de todos nós; seu filho unigênito, por meio de quem todos nós nos originamos.
Em vez de refletir mais sobre o tema, permita-me aguardar suas considerações a fim de encontrarmos outras áreas que precisem ser mais exploradas. Estou precisando refletir também nas considerações do Gerson, Gleison e Norberto, que estão nos acompanhando e interagindo nesse tão importante assunto.
João 17:3
Lúcio