Bruno prezado irmão, Paz!
O argumento “Ele não pode ser o Criador de todas as coisas e ser uma das coisas criadas”, é válido apenas se você achar que geração e criação são a mesma coisa. Ou seja, se você criar um texto literário e considerar que gerar um filho segue o mesmo processo criativo, isto é, a partir do nada.
Considere que esse tipo de raciocínio (que ele não tem origem, porque criou todas as coisas) levanta, no entanto, algumas dificuldades para quem pensa assim, envolvendo o Espírito Santo. Ao observarmos o argumento proposto, considerando o conjunto das Escrituras, temos, por exemplo, versículos como Lc. 10.22 que diz: “... e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar". Ora, pelo princípio da exclusão completa e absoluta, então, decorre que o Espírito Santo está de fora do conhecimento de quem é Deus, pois se somente o Filho conhece o Pai, e o Pai, o Filho; então, o Espírito não conhece nenhum dos dois, mas isso é algo que sabemos não ser plausível afirmar, não por causa do versículo em si, pois, de fato, nos baseando apenas nesse verso, isoladamente, que é o que fazem com os versos 2 e 3 de João 1, essa conclusão seria inevitável e, na realidade, até que poderia ser assim mesmo, mas, justamente por causa de outros versículos das Escrituras, que complementam e esclarecem aquela passagem, essa exclusão não é plausível, e a prova disto encontramos em I Co 2.11 “ Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus.” Além disso precisamos refletir ainda acerca do Espírito Santo considerando o “argumento da exclusão”, pois se João 1.1-3 fala do Logos numa pretendida condição de existencialidade eterna e todo o restante sendo criado por Ele, então, pelo princípio da exclusão completa, defendida pelos trinitários, o Espírito Santo passa a fazer parte das coisas abrangidas pela expressão “todas as coisas foram feitas por intermédio dele”, tendo sido “criado” pelo Verbo em algum tempo na eternidade, já que em Jo. 1.1 diz apenas que estavam juntos Deus e o seu Verbo, não é verdade? Assim, mesmo que se reivindique a ideia de procedência relativamente ao Espírito isto não resolveria o requerimento proposto, que aliás, diz J. N. D. Kelly “Agostinho sempre encontrou dificuldade para explicar... em que difere [o Espírito] da geração do Filho”. Temos ainda Hb. 1.6 “E outra vez, ao introduzir no mundo o primogênito, diz: E todos os anjos de Deus o adorem.” Ora, se são absolutamente todos, então o chamado Anjo do Senhor também deve reverenciar Jesus; mas, ai surge um outro problema, pois os trinitarianos veem nesse chamado Anjo do Senhor o próprio Jesus, o que mais uma vez mostra a falibilidade da argumento da exclusão completa. Quanto lemos em Cl. 1.16 “Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele.”, então, seu Pai, o Deus que é INVISÍVEL (e o verso diz todas as coisas invisíveis), também foi criado por ele? Já que ele criou todas as coisas que há nos céus, e nos céus é onde Deus habita? Certamente que a expressão “todas as coisas” não deve ser entendida no sentido amplo e irrestrito. Ainda em Jo. 3.35 lemos: “O Pai ama o Filho, e todas as coisas entregou nas suas mãos”, embora se diga “todas as coisas”, o Pai não está incluído, a exceção não está dita no próprio evangelho de João, mais em textos correlatos à subordinação das coisas, conforme se prova em I Co. 15.27 “Mas, quando diz que todas as coisas lhe estão sujeitas, claro está que se excetua aquele que lhe sujeitou todas as coisas”. Até mesmo que lemos “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”, claro está que a expressão “todos pecaram” exclui um, o Senhor Jesus Cristo, pois “em tudo foi tentado, mas sem pecado”. Logo se percebe que esse argumento, traz mais dificuldades para um trinitariano que soluções. Aqui não se pretende afirmar que o Filho foi o meio de sua auto-criação, pois fica provado que tais palavras não denotam uma expressão absoluta de totalidade das coisas existentes, pelo contrário, é de se notar pelos exemplos dados que Ele não está incluído na expressão “todos as coisas” por duas razões simples: 1) Por haver sido gerado, não simplesmente criado, pelo Pai antes, e, 2) por ser o executor da ordem criativa do Pai. Assim, como não foi intenção do escritor sagrado afirmar que o Pai se auto-entregou ou se auto-submeteu ao Filho nas palavras “todas as coisas” (I Co. 15.27), quanto lhe submete tudo, assim também a criação de tudo pelo Filho no o exclui de uma origem. “Todas as coisas” lhe foram entregues menos uma, o próprio Pai; também quando se diz “todos os anjos” (Hb. 1.6) se excetua um, que é a teofania de Yahweh, o Anjo do Senhor. Quando se diz “todos pecaram” se exclui um: o Senhor Jesus. De igual modo quando se usa a expressão “Todas as coisas ...” (Jo. 1.3), ao se fala da criação se excetua um, ele próprio, que foi gerado pelo Pai. E, se é forte aplicar a palavra criação, como objetivamente está escrito em Ap. 3.14 “princípio da criação de Deus” com relação ao Filho, não o é o termo geração (Hb. 1.5), no entanto ambas denotam irremediavelmente início. O artifício da teologia pós-apostólica da “geração eterna do Filho” não é ensinado na Bíblia nem de forma direta, nem de forma indireta.
Na Paz!
Valdomiro