Olá, Mazzo, Paulo esperava estar com Cristo, mas a gente não interpeta a Bíblia tomando um texto isolado e transformando-o numa “fortaleza inexpugnável” de certa interpretação. Os autores bíblicos expõem sempre suas ideias à base de uma concatenação de textos. Paulo esperava, sim, estar com Cristo, mas quando despertasse dentre os mortos, pois só “naquele dia” receberia a coroa da vida (2a. Tim. 4:6-8').
Veja no questionário a que me referi as exatas perguntas que tratam de como Paulo aborda a questão, e esta passagem isolada se entenderá devidamente no conjunto de textos concatenados:
18ª. - Por que Cristo e Paulo acentuam que os mortos ressuscitarão ao ouvirem a voz do arcanjo e a trombeta divina, sendo “despertados” do sono da morte (Mat. 24:30, 31; 1 Tes. 4:16), quando suas almas supostamente vêm do céu, inferno, purgatório para reincorporarem, estando já bem despertas?
Obs.: A metáfora do sono é constante, tanto no VT quanto no NT, representando a morte. Diante de claras passagens que tratam da inconsciência dos mortos percebe-se por que se dá o uso de tal metáfora, como no Sal. 13:3—“o sono da morte”; em Dan. 12:2—“dormem no pó da terra”; João 11:11—“Lázaro adormeceu”; 1 Tes. 4:13—“os que dormem”; 1 Cor. 15:18—“os que dormiram em Cristo”. . .: é que na morte prevalece uma condição de INCONSCIÊNCIA para os que morreram. Outros textos que falam da morte como um sono: Sal. 146:1-4; Ecl. 9:5,10; Isa. 38:18,19; 1 Re. 2:10; 1 Re. 11:43; Jó 14:10-12; Jer. 51:39.
19ª. - Por que Paulo, ao discutir específica e detalhadamente em 1 Tes. 4:13-18 e, especialmente, em 1 Coríntios 15, como será o reencontro final de todos os salvos com o Salvador em parte alguma fala de almas vindas, seja de onde for, para reincorporarem?
Obs.: Como no início da história do homem não consta qualquer “alma imortal” sendo introduzida no ser original, nada consta sobre almas vindas do céu, inferno ou purgatório para reincorporarem quando do surgimento dos que se foram, na ressurreição.
20ª. - Paulo diz aos tessalonicenses ainda que não deviam lamentar pelos amados que “dormiam”, encerrando com a recomendação: “Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras” (vs. 18). Por que ele nunca diz que já desfrutavam as bênçãos celestiais, e sim que estavam “dormindo” e seriam despertados?
Obs.: A consolação derivaria da esperança da ressurreição, não do fato de que os que “dormiam” estivessem no desfrute das glórias celestiais.
21ª. - Por que, ao enviar consolações à família de Onesíforo (já morto), Paulo nada fala também de que ele já estivesse desfrutando das bênçãos paradisíacas; pelo contrário, de novo foca-se inteiramente na esperança de alcançar a misericórdia de Deus “naquele dia” (cf. 2 Tim.1:17)?
Obs.: Se Onesíforo tivesse morrido e ido para o céu, a misericórdia divina já lhe teria sido propícia, mas Paulo obviamente não fala daquele dia no sentido de ser o de sua morte.
22ª. - Paulo diz claramente que sem a ressurreição dos mortos—confirmada e garantida pela do próprio Cristo--“os que dormiram em Cristo pereceram” (1 Cor. 15:16 a 18). Por que pereceram, já que deviam estar garantidos no céu?
Obs.: O tema dominante do capítulo é a ressurreição dos mortos, assim a lógica da pergunta é inescapável. 1 Tes. 4:14 diz que Cristo “trará juntamente em Sua companhia os que dormem”, mas todo o teor da passagem e do ensino bíblico é de que Ele os trará, não do céu, mas das sepulturas (ver João 5:28, 29; Dan. 12:2).
23ª. - Mais adiante no mesmo capítulo Paulo confirma o dito nos vs. 16 a 18, acentuando que arriscou morrer lutando com feras, dando a entender que se morresse estaria também perdido (vs. 32). Ao comentar, “comamos, bebamos que amanhã morreremos”, não indica claramente que sem a realidade da ressurreição, não há esperança alguma de vida eterna?
Obs.: À luz da pergunta anterior, esta revela-se prova irrefutável de que Paulo não pensava em termos de uma “alma imortal” indo para o céu quando da morte, pois não tinha ele próprio tal esperança. Sua expectativa é expressa em 2 Tim. 4:6-8 onde fala que “naquele dia” esperava receber o seu galardão eterno. Para ele, não fosse pela ressurreição, nem valia a pena viver pois a morte seria o fim de tudo.
24ª. - Quando realmente, segundo Paulo em 1 Cor. 15:53, 54, ocorre a vitória sobre a morte—quando da ressurreição dos mortos ou quando a “alma” é liberada da “prisão corporal”?
Obs.: Pela interpretação popular do “morrer e ir pro céu”, a morte é contraditoriamente derrotada PELA PRÓPRIA MORTE, pois com a liberação da “alma imortal” quando da morte do corpo, não ocorre realmente morte, mas preservação da vida e consciência de quem dá o último suspiro, noutra dimensão.
25ª. - À luz de 2a. Cor. 5:8 e contexto imediato, se o termo “despido” se refere a uma condição incorpórea onde Paulo JÁ ESTARIA com Cristo, por que razão ele diz tão claramente que NÃO QUERIA ESTAR DESPIDO?
Obs.: Se Paulo queria estar com Cristo, mas não despido, é porque não estaria com Cristo sem um corpo, mas REVESTIDO com o corpo glorioso da ressurreição. Por isso fica ÓBVIO que ele cria que só estaremos com Cristo com corpos ressurretos, não em forma de espírito incorpóreo (despido) num estado intermediário.
26ª. - Por que em 2ª. Cor. 4:14, exatamente no capítulo anterior ao de 2ª. Cor. 5:1-8, Paulo fala de reencontrar os crentes que conhecia (muitos dos quais ganhou para a fé cristã), mas a ênfase dada é “nos ressuscitará também por Jesus, e nos apresentará convosco”?
Obs.: Pelo raciocínio dualista, ele os reveria quando morresse e fosse imediatamente para o céu, sem essa longa espera até a ressurreição do dia final. O texto de Fil. 1:23 é explicado pelo MESMO Paulo, na MESMA epístola—3:20, 21. Ele estaria com Cristo quando fosse revestido do “corpo celestial”, sobre que tratou tão detalhadamente em 1 Cor. 15:35-55.