Li um trabalho de 2013, defendendo uma leitura literal do Dilúvio Bíblico. Foi feito por um jovem chamado Mats. É interessante, apresenta um ponto de vista e argumentações com as quais entrei em conflito. Vale a pena ler e tem muito a ver com o tema deste tópico. Vou dividir em duas partes e comentar.
O Dilúvio de Noé cobriu os Himalaias?
Poucas doutrinas das Escrituras são ensinadas de modo mais claro que a natureza global do Grande Dilúvio que ocorreu nos dias de Noé. O Livro de Génesis claramente ensina que “as águas, e cresceram grandemente . . . e todos os altos montes que havia debaixo de todo o céu, foram cobertos.” (Génesis 7:18-20)
Durante os séculos, poucos Cristãos questionaram esta doutrina; a Bíblia ensinava-a, e isso era suficiente – isto até as finais do século 18. Por esta altura, e pela primeira vez, o globo começou a ser explorado e as elevadas montanhas foram pesquisadas. O Monte Evereste, a mais alta elevação do planeta, foi registado como tendo 8848,43 metros de altitude. O nome Himalaia vem do sânscrito e significa “morada da neve”.
Será que as águas cobriram o Monte Evereste? Será que existe água suficiente para tal? Estas questões pareciam tão absurdas na altura em que esta e outras cordilheiras foram exploradas que muitos teólogos colocaram de parte a noção dum Dilúvio Global, adoptando no seu lugar o conceito dum dilúvio local – erro que ainda domina muitas universidades e seminários Cristãos actuais. Tal como dominós, outras doutrinas Bíblicas começaram também a cair – a Terra jovem, a criação especial dos animais e das plantas, e a inerrância das Escrituras.
Claro que hoje sabe-se que a Terra tem água suficiente para dar início a um dilúvio global. Foi calculado que se a superfície da Terra fosse plana – sem montanhas extraordinariamente elevadas – e não existissem bacias oceânicas profundas, a água poderia cobrir toda a Terra e colocar o nível da água 2400 metros acima do ponto mais alto.
Muito vago. Qual seria a altura dessa “montanha baixa” para que águas oceânicas pudessem subir 2400 metros acima de seu cume?
Mats está defendendo um mundo plano, mas plano mesmo!
Eu vivo no ABC Paulista, localizado num platô a aproximadamente 760 metros de altura do nível do mar. Se toda a água presente no planeta (nuvens, geleiras, água presente no seres vivos, lagos, rios...) fosse para os oceanos, a água não atingiria a altura do local onde estou.
Exemplo: se todo o gelo da Antártida descongelasse, os oceanos subiriam pouco mais que 3 metros. Seria um desastre sério... mas não tão sério.
Mas será que há água suficiente para cobrir uma montanha com quase 9000 metros de altura?
Não há nem para cobrir o Pico do Jaraguá.
Os pontos chaves a lembrar são que 1) o Dilúvio não tinha que cobrir a Terra actual, mas sim a Terra que existia antes do Dilúvio. e 2) o Dilúvio alterou por completo a geologia do planeta. “Pelas quais coisas pereceu o mundo de então, coberto com as águas do dilúvio.“ (2 Pedro 3:6) Esse mundo desapareceu para sempre uma vez que o evento geológico e hidráulico global que ocorreu nos dias de Noé alterou-o radicalmente.
O Dilúvio levou a cabo trabalho geológico abundante, erodindo sedimentos dum lado para os depositar noutro local, elevando continentes e planaltos, desnudando terrenos e muito mais. Devido a isto, a composição geológico da Terra actual é muito diferente da Terra pré-diluviana. Hoje, até cordilheiras montanhosas elevam-se muito acima dos mares.
O Monte Evereste e a cordilheira dos Himalaias, tal como os Alpes, as “Colorado Rockies”, os Apalaches e a maior parte das montanhas do resto do mundo, são compostos por sendimentos provenientes do fundo do oceano, cheios de fósseis marinhos depositados pelo Dilúvio. O próprio Monte Evereste possui fósseis de moluscos no seu topo. [OBS: os evolucionistas não questionam a existência de fósseis marinhos no topo do Evereste] Estas camadas rochosas cobrem uma extensa área, incluindo uma larga parte da Ásia, e elas dão-nos todos os indícios de serem o resultado dum processo aquático cataclísmico, causando o tipo de depósitos que se esperariam durante e após o destrutivo e global Dilúvio dos dias de Noé.
No final do Dilúvio, e depois de maciças sequências de sedimentos se terem acumulado, o subcontinente Indiano evidentemente colidiu com a Ásia, amassando os sedimentos e formando as montanhas. Hoje, as dobradas e fracturadas camadas de sedimentos provenientes do fundo dos oceanos, estacionadas em sítios elevados, são os gigantes que nós conhecemos. Portanto, o Dilúvio de Noé não cobriu os Himalaias: o Dilúvio de Noé formou os Himalaias.
Absolutamente errado. A formação da mais poderosa cadeia montanhosa do planeta não ocorreu da noite para o dia. As ideias da Tectônica de Placas estão simplesmente sendo aceleradas de maneira grotesca. Dezenas de milhões de anos envolvem os movimentos continentais. Não são processos de fins de semanas. E se os sedimentos que compõem (em parte) as montanhas, já estiveram no fundo do mar, foram necessárias eras, para se elevarem.
As mudanças em nível geológico que ocorreram no planeta, desde a época do Antigo Egito (que já existia no tempo em que se defende que o Dilúvio Universal aconteceu) até a atualidade, foram muito discretas.
Mas a principal falha do pensamento do Mats está no campo biológico. No campo das espécies, do qual trata este tópico.
Porque o Mats defende uma Terra plana antes do dilúvio, e como eu disse: plana mesmo! Sem abismos marinhos, sem montanhas dignas do nome, e, pelo que sei, sem nem mesmo platôs como este sobre o qual vivo.
E como ficavam os animais que nós sabemos que vivem nesses ambientes, já que esses ambientes não existiam?
Como ficariam os cabritos monteses, se os montes não existiam?
Como ficaria o leopardo das neves, já que eles vivem em regiões acima de 5000 metros?
E como ficariam os peixes que vivem em regiões abissais, como o peixe-dragão, o peixe-olho-de-barril, o peixe-diabo-negro e o peixe-dragão? É defendido que as regiões abissais não existiam.
Só há uma resposta, se alguém quiser defender o ponto de vista do Mats... essas espécies não existiam. Se não existe um ambiente, a criatura que deveria viver nele, não existe. Só que essa resposta não é aceitável.
Alguém vai querer defender que eles surgiram depois do dilúvio, mas isso é evolucionismo corrupto, querendo envolver fictícias formas animais básicas.
Não há uma defesa para a posição do Mats, que não esbarre em problemas intransponíveis.