A revista Despertai de 8/5/1979 escreveu:O Conceito da Bíblia“Um só Jeová” — em que sentido?AOS israelitas, nos umbrais da Terra Prometida, Moisés declarou: “
Escuta, ó Israel: Jeová, nosso Deus, é um só Jeová.” (Deu. 6:4) O que Moisés queria dizer com isso?
Antes de responder a esta pergunta, será digno de nota examinar o conceito das pessoas que afirmam que a declaração de Moisés significa que Deus é uma “trindade” de três pessoas cogitais, coeternas, combinadas em um só Deus.
Elas buscam prova disso na palavra traduzida “Deus” (eloim), que é plural em hebraico. Supostamente, o plural indica que Deus é mais de uma pessoa. Prova adicional deste conceito é procurada na palavra hebraica para “um só” (ehhad). Ocasionalmente, os escritores bíblicos usam este termo para uma união de mais de uma pessoa, como no caso dum marido e esposa serem “uma só carne”. (Gên. 2:24) Nessa base, argúi-se que a expressão “um só Jeová” significa “unidade composta” de três pessoas em uma só.
Consideremos a asserção, baseada na palavra plural para Deus em hebraico, a saber, eloim. De forma alguma isto precisa significar que Deus seja mais de uma pessoa. Com freqüência, uma palavra plural, em hebraico, indica uma única coisa ou pessoa. Aaron Ember escreve em The American Journal of Semitic Languages and Literatures (Revista Americana de Línguas e Publicações Semíticas; Vol. XXI, julho de 1905):
“Vários fenômenos no universo foram designados em hebraico por expressões plurais, porque inspiravam a mente hebraica com a idéia de grandeza, majestade, grandiosidade e santidade.” Como ilustração, Ember indica que “o rei persa . . . é designado em vários trechos do V[elho] T[estamento] pelo pl[ural] melakim ‘reis’, i. e., O Grande Rei, e o Império Persa pelo pl[ural] mamlakot, ‘reinos’, i. e., O Grande Reino”.
Com respeito à palavra hebraica para Deus, declara o mesmo autor:
“Propuseram-se várias teorias para explicar o uso da forma plural eloim como designação do Deus de Israel. Menos plausível é o conceito dos velhos teólogos, a começar com Peter Lombard (século 12), de que temos, na forma plural, uma referência à Trindade. . . . Que a linguagem do V[elho] T[estamento] abandonou inteiramente a idéia da pluralidade de eloim (conforme aplicada ao Deus de Israel) é indicado especialmente pelo fato de que é quase que invariavelmente regida por um único predicado verbal, e assume um único atributo adjetivo. . . . eloim precisa, antes, ser explicada como um plural intensivo, indicando grandeza e majestade, sendo igual a O Grande Deus. Alinha-se com os plurais adonim [“mestre”] e baalim [“dono”, “senhor”] empregados com referência aos seres humanos.”
Assim, não existe base alguma para se argumentar, à base da palavra hebraica plural, eloim, que Deus seja mais do que uma só pessoa
Que dizer da afirmação de que a palavra hebraica para “um só”, em Deuteronômio 6:4, indica que Deus é uma combinação de mais de uma pessoa? Isto, também, peca pela base, visto que “um só” nas Escrituras amiúde significa um só com a exclusão de outros. Por exemplo: “Existe um, mas não há um segundo”, “melhor dois de que um”; “há uma que é a minha pomba, minha inculpe. Há uma que pertence à sua mãe”. — Ecl. 4:8, 9; Cân. 6:9.
Podemos então voltar à pergunta suscitada no início deste artigo: O que se quer dizer com a declaração: “
Jeová, nosso Deus, é um só Jeová”?
O contexto revela que Moisés acabara de enumerar a “todo o Israel” os Dez Mandamentos (Deu. 5:1-22) o primeiro destes exigia de Israel: “nunca deves ter quaisquer outros deuses em oposição à minha pessoa.” (Deu. 5:7) Ao declarar que o Deus de Israel era “um só Jeová”, Moisés, evidentemente, opunha-se a dois aspectos da adoração falsa por parte das nações gentias. Como assim?
Primeiro de tudo, aquelas nações eram politeístas, adorando a muitos deuses. Em contraste, Israel só possuía um Deus, Jeová. O apóstolo Paulo bem expressou isto ao dizer: “Embora haja os que se chamem ‘deuses’, quer no céu quer na terra, assim como há muitos ‘deuses’ e muitos ‘senhores’, para nós há realmente um só Deus, o Pai.” — 1 Cor.8:5, 6.
Em segundo lugar, mesmo quando os gentios adoravam a um só Deus específico, não raro tal deus se dividia em numerosos aspectos, cada um dos quais era peculiar a certa localidade. Por exemplo, Baal era um único deus. Mas as Escrituras revelam que diferentes localidades possuíam diferentes Baals, tais como Baal de Peor, em Moabe, Baal-Berite em Siquém, e Baal-Zebube em Ecrom. (Núm. 25:3, 5; Juí. 8:33; 2 Reis 1:2-6) Quanto ao efeito que isto teve sobre a unidade do deus reverenciado, no início do século 19, o orientalista E. F. C. Rosenmüller indicou que “não só [os gentios adoravam] muitos deuses, mas, por meio de uma prática religiosa tola, até mesmo um e o mesmo deus era venerado como se estivesse multiplicado, por diferentes nomes, em muitos outros deuses amplamente diversos”. Quando pessoas de diferentes localidades adoravam a vários “Baals”, cada um com suas próprias peculiaridades, era como se Baal fosse muitos deuses. Uma obra de referência dos tempos mais recentes ilustra isto da seguinte forma:
“As muitas representações ‘locais’ da adoração de Baal podiam ser comparadas com as da adoração da Maria, católica-romana. Assim como se pode falar da Notre Dame (Nossa Senhora) de Paris, ou de Lurdes, ou do Norte, pode-se também falar do Senhor [Baal] de Sapan, ou de Sídon, ou de Ugarite, muito embora se tenha presente apenas variações de uma única figura.” — Theological Dictionary of the Old Testament (Dicionário Teológico do Velho Testamento), Vol. II, (1975), p. 186.
Em oposição a tais superstições, Moisés declarou que o deus de Israel era “um só Jeová”. Isto significava que Jeová era o único e verdadeiro Deus, e que deveria ser adorado como sendo somente um, e não dividido num grupo de aspectos, ou ‘Jeovás’ locais, como acontecia com “os Baals”. — Juí. 2:11; 3:7; 8:33.
Segundo as Escrituras, aproxima-se rapidamente o dia em que toda a humanidade reconhecerá a unicidade de Jeová. Neste respeito, Deus declarou mediante o profeta Zacarias:
“Jeová terá de tornar-se rei sobre toda a terra. Naquele dia Jeová mostrará ser um só e seu nome um só.” (Zac. 14:9) Isto significa que a inteira família humana reconhecerá a soberania de Jeová. Ele será o único Deus adorado. E as pessoas prestarão serviço sagrado a Jeová, não como estando dividido em numerosos aspectos que diferem de uma localidade para outra, mas como uma única pessoa e com uma forma unificada de adoração em todo o mundo. (Veja Efésios 4:4-6.) Naquele tempo, haverá unânime acordo por toda a terra:
“Jeová, nosso Deus, é um só Jeová.”[Nota(s) de rodapé]
De Scholia in Deuteronomium (Notas Sobre Deuteronômio), de Roseumüller. A citação é traduzida do latim.