Gilcimar
Quando se lê Gênesis 18:20-21 com mais cuidado, observa-se que é atribuído a um dos três anjos que apareceram a Abraão o nome de Jeová, por ser ele o Seu representante. Você fez isso e concluiu corretamente [poder] se tratar do próprio Jesus em sua condição pré-humana. Você observou também que a não-onisciência daquele representante de Jeová, outras vezes chamado de "o anjo de Jeová", resta evidente quando ele diz: "
Descerei agora [a Sodoma e Gomorra] e verei se, com efeito, têm praticado segundo esse clamor que é vindo até mim; e, se não, sabê-lo-ei." (Gn 18:20).
O anjo que representou a Jeová evidentemente não é onisciente, mas Jeová o é. Visto que todas as coisas que Jeová faz ele o faz por meio de seu Representante, Jesus (João 1:3), a quem ele mais tarde constitui "
Juiz de toda a terra" (Gn 18:25), "...
dos vivos e dos mortos", Jeová o enviou a Sodoma e Gomorra para, na qualidade de seu representante, "
saber" da situação exata do que estava ali ocorrendo antes de
sentenciar à destruição aquelas cidades. Jeová não precisa evidentemente do relato de alguém para se inteirar dos fatos. O recurso antropomórfico está evidentemente envolvido, como em 2 Crônicas 16:9, que diz:
2 Crônicas 16:9 escreveu:"... quanto ao SENHOR (Jeová), seus olhos passam por toda a terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é totalmente dele...".
Paulo, que não tem onisciência mas tem ciência, e que é a imagem e semelhança de Deus, ilustrou como pode ser seletivo na utilização do conhecimento que ele tinha ou que tinha a capacidade de ter, quando disse: "
Pois não quis saber outra coisa entre vós a não ser Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado" (1 Co 2:2).
Ter Deus a capacidade de decidir quando quer usar sua onisciência ou parte dela não é limitá-lo. Muito pelo contrário, significa retirar seus limites e reconhecê-lo Senhor, e não escravo das
obrigações geradas pelo seu conhecimento. Por exemplo: Deus conhece os nossos pensamentos e as nossas orações, antes mesmo de as proferirmos. Mas quando nós as proferimos, de certo modo Deus se limita, pois prometeu atendê-las. Se as pessoas oram a Ele de modo inadequado, Deus pode resolver "não escutar" suas orações, impedindo-as de "chegar até ele" como que por uma espécie de densa nuvem. Deus não é obrigado a exercer todos os suas potencialidades e qualidades em toda a sua plenitude ininterruptamente.
O mesmo se dá com sua onipotência. Deus não é obrigado a usar sempre todo o seu poder, mas apenas quando lhe apraz, e na quantidade necessária para atingir seus objetivos, embora todo o seu poder esteja à Sua disposição.
Quando Jesus proferiu as palavras de Marcos 13:32, só o Pai sabia "o dia e a hora" pré-estabelecidos por Deus para Jesus se sentar no seu trono glorioso como Juiz (Mateus 25:31). É bem provável que atualmente Jesus já sabe esse dia e essa hora, mas com certeza, por revelação do Pai, e não por si mesmo. Este detalhe é que o difere do Pai. Assim como Jesus disse: "Todo o poder
me foi dado no céu e na terra", todas as outras coisas que Jesus tenha, como "todo o conhecimento", ou "toda a bondade", foram lhe dados pelo Pai. Sabe porque as escrituras jamais utilizam um adjetivo em sua forma superlativa para se referir a alguma qualidade de Jesus, reservando superlativos unicamente ao Pai? É porque não cabe ao Filho nem muito menos a qualquer outra criatura tais superlativos, como "altíssimo", "santíssimo", "todo-poderoso" ou "poderosíssimo". Só o Pai é - num grau superlativo - bom e poderoso e sábio e santo e qualquer outra coisa que Jesus, os apóstolos, Maria, e outros humanos, o podem ser em graus menores.
Se alguém nos perguntasse: "
Você sabe quantos segundos tem um ano?" ou "
Você sabe quantas letras tem seu nome completo?" ou "
Você sabe o que é que você fez ontem à noite?", provavelmente responderá que sim, embora precise de algum tempo para acessar o local do cérebro onde estão guardadas as informações para responder a cada cada pergunta.
Isaías 40:26 diz que Deus conhece todas as estrelas por nome, o que envolve a descrição precisa de todas as suas características. A ideia que alguns fazem de Deus é que sua onipotência o obrigaria a dizer "
Haja luz", e a luz do universo deveria aparecer como que num passe de mágica, em menos de um segundo, como quando ligamos o interruptor de uma lâmpada. O mesmo, pensam, deveria ocorrer com a criação do universo. No entanto, Jeová não prefere usar de maneira tão heterodoxa seu imenso poder e onisciência. A velocidade que Ele escolheu normalmente para criar as coisas é a velocidade da Natureza. Ainda hoje, Ele demora nove meses para proceder a gestação de uma criança no ventre de uma mulher.
O conceito de onisciência a que eu me ative, extraído do site jw.org, é igualmente apresentado na Wikipédia: "
Onisciência (português brasileiro) ou omnisciência (português europeu)
é a capacidade de saber tudo infinitamente (ad infinitum), incluindo pensamentos, sentimentos, vida, passado, presente, futuro, e todo universo, etc.". Se há situações em que Deus prefere não usar sua onisciência, o que importa isto a nós?
Lúcio