por Prof. Azenilto G. Brito Sab 31 Out 2015, 03:02
Vejam que no quadro 26 apresentei uma série de perguntas extraídas de meu questionário de 30 perguntas tira-teima sobre o tema da condição dos mortos. E justamente a última que apresentei explica a “fortaleza inexpugnável” em que Mazzo quer transformar Fil. 1:23. Então, o problema aí já é de caráter metodológico--basear toda uma teologia num ou dois textos isolados.
Vejamos como eu expus isso na “observação” que acompanha a pergunta:
26ª. - Por que em 2ª. Cor. 4:14, exatamente no capítulo anterior ao de 2ª. Cor. 5:1-8, Paulo fala de reencontrar os crentes que conhecia (muitos dos quais ganhou para a fé cristã), mas a ênfase dada é “nos ressuscitará também por Jesus, e nos apresentará convosco”?
Obs.: Pelo raciocínio dualista, ele os reveria quando morresse e fosse imediatamente para o céu, sem essa longa espera até a ressurreição do dia final. O texto de Fil. 1:23 é explicado pelo MESMO Paulo, na MESMA epístola—3:20, 21. Ele estaria com Cristo quando fosse revestido do “corpo celestial”, sobre que tratou tão detalhadamente em 1 Cor. 15:35-55.
Mas eis uma reflexão que pode lançar luz sobre o porquê de rejeitarmos a noção do imediatismo da recompensa final--o “morrer e ir pro céu”:
Imaginemos um dedicado pai de família que se empenha em manter os filhos nos caminhos do Senhor, deixando um exemplo de fidelidade aos princípios bíblicos e assiduidade em assistir aos cultos. Mas, morre relativamente jovem, e vai para o céu com sua “alma imortal”. Daí, fica esperando que filhos e esposa ali apareçam décadas depois.
Contudo, passa o tempo, e. . . nada. Digamos que a esposa, agora viúva, casa-se com outro homem, mas este é um crente frouxo e finda se desviando da fé e a levando junto, bem como deixando uma má influência sobre os jovens filhos. Estes logo saem da Igreja, envolvendo-se com drogas e crimes (o que não é tão raro), enfim, perdendo-se nos caminhos da tentação.
Daí, o pobre homem, nos páramos da glória, chega à triste conclusão de que após passar um tempo em que naturalmente deveriam todos ter falecido e a ele se unido ali, mas isso não ocorrendo é porque não se salvaram, e estão, ao contrário, torrando no inferno de fogo eterno, em torturas colossais, assim condenados por toda a eternidade. Como pode ter paz e alegria celestiais um homem sob tais condições?!
Também a ideia de que “não há lembrança” das coisas passadas é problemática. Imaginem uma situação diferente, em que essa referida viúva se salvasse, morresse e fosse para o céu. Chegando lá, nem se lembraria de quem realmente foi, com quem conviveu, se teve filhos ou marido. Este cruza caminhos com ela, mas ninguém sabe quem é quem. . . Ignoram totamente sua história.
Gente, isso não faz qualquer sentido, seria um céu tremendamente deficiente de emoções tão relevantes para a vida de um ser humano. Mais lógico é entender que TODOS juntos herdarão o Reino “naquele dia”, como diz Paulo ao expressar sua esperança de receber no porvir a coroa da glória eterna:
“. . . já estou sendo derramado como libação, e o tempo da minha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará NAQUELE DIA; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a SUA VINDA. -- 2 Tim. 4:6-8.
Isso se harmoniza com o que Cristo disse--sobre estar PARA SEMPRE com os Seus, não quando morressem e fossem para o céu, e sim quando Ele retornasse para levá-los para os “lugares” que lhes foi preparar junto às moradas do Pai (João 14:1-3).
Assim, a ênfase bíblica não é a IDA de pessoas para o céu, e sim a VINDA de Cristo para buscar os Seus, ressuscitando-os primeiro dentre os mortos.
Também é bom recordar que a Bíblia fala que “as obras acompanham” os que morrem (ver Apo. 14:13). Claro, há a influência para o bem ou para o mal sobre vidas individuais ou sobre toda a sociedade de uma pessoa enquanto viva, e ao morrer, suas “obras” acompanharão a trajetória dessas outras vidas por tempo indeterminado. Hitler, por exemplo, deixou admiradores e “discípulos” até os dias de hoje, então o potencial de maldade que a sua existência representou não se esgotou com a sua morte. Por isso o juízo final só fará sentido quando toda a história da humanidade chegar a seu fim, e as causas e consequências da vida de cada uma e todas as criaturas humanas forem devidamente pesadas na balança do Eterno.