Norberto, Paz!
Muito bem respondido.
O estudo da eclesiologia nos mostra que na igreja inciante quando alguém discordava era afastado do tronco principal, mas não era perseguido. Ele poderia conseguir seguidores sem que isso fosse motivo de "combate". Era deixado de mão. Isso favoreceu o surgimento de várias vertentes. Nessa época não existia relação entre Igreja e Estado. Com o edito de tolerância outorgado em 312, a Igreja deixou de ser perseguida. Nessa época vários nobres pagãos, que faziam parte do alto escalão do império começaram a se converter (impressionados pela perseverança dos crentes em época de pserseguição). Constantino, supostamente, o fez no final de sua vida. Como os poderosos começaram a se converter, a Igreja começou a gozar de privilégios nunca dantes sonhados. O Concílio de Niceia é um marco no sentido de mostrar uma intervenção direta do Estado nos assuntos religiosos. É nesse cenário que a ideia de um Jesus tão Deus quando o Pai é construído.
A própria vitória, por assim dizer, dos atanasianos em Niceia se deu por intervenção direta do Imperador que, aconselhado por Ósio de Córdoba, mandou incluir o termo “homoousios” no credo sabendo que pela conotação sabeliana nenhum ariano (ou unitarista da época) assinaria. Vários se negaram, mas veio então a sugestão de punição. Quem não assinar será excomungado ou exilado. Com isso somente dois ou três não assinaram. Até Eusébio de Nicomédia e Eusébio de Cesareia (o historiador da Igreja) que eram unitarianos assinaram. Depois se justificaram dizendo que o credo não feria a ideia que eles tinham de Jesus. Outros retiraram a assinatura depois.
Mas o grande divisor de águas foi a assunção ao trono por Teodósio I. Ele simplesmente decretou em 379 que a trindade era doutrina oficial e ninguém poderia contrariá-la. Os bispos estavam desconfortáveis com a situação e pediram um concílio para legitimar a decisão. Em 381 foi feito o concílio com 150 bispos que não estavam dispostos a discordar do imperador por causa das implicações que isso poderia lhes ocorrer, além de terem sido escolhidos bispos que não produziriam dificuldades. Esse imperador, então, “respaldado” pela igreja (150 bispos. Uma pequena parte da igreja da época), punia com severas penas (morte inclisive) quem não declarasse Jesus como Deus e o Espírito Santo como Deus.
Depois disso foi instituído a “Disciplina do Arcano” que não tinha esse nome, mas que assim ficou conhecido. Era a alegação que só a “igreja” tem o conhecimento exato para transmitir aos fiéis e que ninguém que não fosse do magistério da “igreja” poderia ter livre exame das Escrituras para não cair em heresia. O acesso direto à Palavra de Deus foi sendo tirada. Dai em diante com a estrutura montada e o apoio dos imperadores, aqueles que discordavam foram sistematicamente perseguidos até a implantação das perseguições que, na idade média, culminaram com a implantação da inquisição. Num quadro como esse é fácil entender porque a ideia de que Jesus é Deus tal qual o Pai prevaleceu.
Na época da Reforma Protestante, com a reabertura da possibilidade de exame livre da Bíblia, surgiram os restauradores do monoteísmo estrito. O problema é que muitos líderes protestantes perseguiram esses que concluíram que a trindade não existe na Bíblia. Miguel de Severt, médico e teólogo, foi queimado vivo na Suíça porque negou a trindade. Outros foram enforcados, destituídos de seus empregos, caçados e etc. Para se ter uma ideia até 1813, ou seja, bem recente em termos históricos na Inglaterra era proibido falar contra a existência da trindade.
Somente a partir do século XX é que a liberdade plena pôde ser percebida e é por isso que cada dia mais pessoas se conscientizam que falta na Bíblia, realmente, a explicitude do dogma.
Em outras palavras há uma história longa a se considerar.
Paz!
Valdomiro.
Muito bem respondido.
O estudo da eclesiologia nos mostra que na igreja inciante quando alguém discordava era afastado do tronco principal, mas não era perseguido. Ele poderia conseguir seguidores sem que isso fosse motivo de "combate". Era deixado de mão. Isso favoreceu o surgimento de várias vertentes. Nessa época não existia relação entre Igreja e Estado. Com o edito de tolerância outorgado em 312, a Igreja deixou de ser perseguida. Nessa época vários nobres pagãos, que faziam parte do alto escalão do império começaram a se converter (impressionados pela perseverança dos crentes em época de pserseguição). Constantino, supostamente, o fez no final de sua vida. Como os poderosos começaram a se converter, a Igreja começou a gozar de privilégios nunca dantes sonhados. O Concílio de Niceia é um marco no sentido de mostrar uma intervenção direta do Estado nos assuntos religiosos. É nesse cenário que a ideia de um Jesus tão Deus quando o Pai é construído.
A própria vitória, por assim dizer, dos atanasianos em Niceia se deu por intervenção direta do Imperador que, aconselhado por Ósio de Córdoba, mandou incluir o termo “homoousios” no credo sabendo que pela conotação sabeliana nenhum ariano (ou unitarista da época) assinaria. Vários se negaram, mas veio então a sugestão de punição. Quem não assinar será excomungado ou exilado. Com isso somente dois ou três não assinaram. Até Eusébio de Nicomédia e Eusébio de Cesareia (o historiador da Igreja) que eram unitarianos assinaram. Depois se justificaram dizendo que o credo não feria a ideia que eles tinham de Jesus. Outros retiraram a assinatura depois.
Mas o grande divisor de águas foi a assunção ao trono por Teodósio I. Ele simplesmente decretou em 379 que a trindade era doutrina oficial e ninguém poderia contrariá-la. Os bispos estavam desconfortáveis com a situação e pediram um concílio para legitimar a decisão. Em 381 foi feito o concílio com 150 bispos que não estavam dispostos a discordar do imperador por causa das implicações que isso poderia lhes ocorrer, além de terem sido escolhidos bispos que não produziriam dificuldades. Esse imperador, então, “respaldado” pela igreja (150 bispos. Uma pequena parte da igreja da época), punia com severas penas (morte inclisive) quem não declarasse Jesus como Deus e o Espírito Santo como Deus.
Depois disso foi instituído a “Disciplina do Arcano” que não tinha esse nome, mas que assim ficou conhecido. Era a alegação que só a “igreja” tem o conhecimento exato para transmitir aos fiéis e que ninguém que não fosse do magistério da “igreja” poderia ter livre exame das Escrituras para não cair em heresia. O acesso direto à Palavra de Deus foi sendo tirada. Dai em diante com a estrutura montada e o apoio dos imperadores, aqueles que discordavam foram sistematicamente perseguidos até a implantação das perseguições que, na idade média, culminaram com a implantação da inquisição. Num quadro como esse é fácil entender porque a ideia de que Jesus é Deus tal qual o Pai prevaleceu.
Na época da Reforma Protestante, com a reabertura da possibilidade de exame livre da Bíblia, surgiram os restauradores do monoteísmo estrito. O problema é que muitos líderes protestantes perseguiram esses que concluíram que a trindade não existe na Bíblia. Miguel de Severt, médico e teólogo, foi queimado vivo na Suíça porque negou a trindade. Outros foram enforcados, destituídos de seus empregos, caçados e etc. Para se ter uma ideia até 1813, ou seja, bem recente em termos históricos na Inglaterra era proibido falar contra a existência da trindade.
Somente a partir do século XX é que a liberdade plena pôde ser percebida e é por isso que cada dia mais pessoas se conscientizam que falta na Bíblia, realmente, a explicitude do dogma.
Em outras palavras há uma história longa a se considerar.
Paz!
Valdomiro.