Recebi esta semana a visita de um cavalheiro que é testemunha de Jeová, acompanhado da esposa, para um estudo que se dispôs a fazer, após um contato anterior com minha esposa, pretendendo explicar-lhe por que sua organização não ensina a observância do sábado.
Ela me convidou para o diálogo com eles, mas tal diálogo não avançou muito porque a única coisa que ele queria era ler-nos a “explicação oficial” a respeito, como consta de seu livro Raciocínios à Base das Escrituras, o que não me pareceu apropriado. Ele não estava nem um pouco disposto a admitir a possibilidade de que podia APRENDER algo conosco, pois julgava que sua missão era só a de ENSINAR (coisa típica desses religosos).
Seja como for, preparei um esboço (que imprimirei e buscarei entregar-lhe no próprio Salão do Reino que ele frequenta) mostrando alguns pontos que eu ressaltei em tal diálogo:
1 – As teorias sobre a lei de Deus nos seus 10 Mandamentos ter sido abolida procede de uma interpretação tradicional de cristãos dispensacionalistas, que influenciaram o fundador da organização das TJ’s—Carlos Russell. Prova disso é que Russell defendeu até sua morte em 1916 as teses dispensacionalistas envolvendo profecias relativas ao futuro da nação de Israel (como ensinam até hoje os dispensacionalistas), interpretações que só foram descartadas pelas TJ’s em 1932, na presidência de Joseph F. Rutherford (ver o livro Proclamadores do Reino, págs. 140 e 141).
Rutherford e seus sucessores, porém, mantiveram o viés desses ensinos sobre a “dispensação da lei” que teria sido suplantada pela atual “dispensação da graça” (que desfaria a regra dos 10 Mandamentos para os cristãos). Mas ele mesmo, tanto no livro Criação quanto Inimigos, oferece esclarecedora exposição sobre o tema da lei e concertos, como fotocópias anexas mostram.
2 – Os dois mandamentos de amar a Deus sobre todas as coisas e amar o próximo como a si mesmo não foram originados por Cristo ao falar sobre isso em Mat. 22:36-40, pois Ele apenas reitera o que Moisés já havia dito em Deut. 6:5 e Levt. 19:18. Não é um substituto da Lei Moral de Deus, e sim a sua síntese. Não se deve confundir síntese (ou resumo) da lei com substituto da lei, como faz a literatura das TJ’s.
3 – Sendo que Jesus disse que TODA a lei e os profetas dependem desse duplo princípio de amor a Deus e ao próximo em Mat. 22:36-40, isso inclui o sábado, sendo, pois, parte dos demais preceitos relacionados com amor a Deus—não ter outros deuses, não cultuar ídolos, não falar o nome de Deus em vão, e dedicar ao Senhor o Seu dia. Portanto, o sábado é um mandamento do amor tanto quanto não cultuar imagens ou não desonrar o nome de Deus.
4 – A passagem de 2ª. Cor. 3:2-11 em vez de provar o fim dos 10 Mandamentos, como dá a entender o livro Raciocínios à Base das Escrituras, indica exatamente o contrário—mostra como Paulo confirma que o cristão deve ter a lei divina escrita, não como letra morta sobre tábuas de pedra, e sim no coração, como é a promessa da Nova Aliança em Heb. 8:10. E Paulo jamais diz que somente 90% do conteúdo das tábuas de pedra é que devia estar nas tábuas de carne do coração, e sim fica claro pelo que ele diz que seria 100% desse conteúdo.
5 – Prova adicional de que para Paulo os 10 Mandamentos ainda eram vigentes no seu tempo temos no fato de o Apóstolo recomendar aos efésios “o primeiro mandamento com promessa”, que é o 5º. do Decálogo (do respeito de filhos aos pais—ver Efé. 6:1-3). Pela linguagem do texto, fica evidente que os efésios sabiam a que lei ele se referia, e a aplicação de “longa vida sobre a Terra” do mandamento original (Canaã—ver Êxo. 20:12) Paulo aplica a longa vida para os cristãos obedientes a tal preceito em qualquer terra. Ver também Rom. 7:7 e 8, 12, 14, 22 e 8:7.
6 – Na promessa da Nova Aliança em Heb. 8:10 não é dito em parte alguma que no processo de escrever as Suas leis nos corações dos Seus filhos que aceitam os termos dessa Nova Aliança [ou Concerto] Deus deixa de fora o preceito do sábado. E é importante observar que o texto de Heb. 8:10 é repetição de Jer. 31:31-33, portanto as “Minhas leis” [de Deus] são as mesmas conhecidas pelo profeta, o que inclui o sábado.
7 – O cerimonialismo não será escrito nesses corações, pois há muitas explicações nos escritos paulinos sobre o fim da parte prefigurativa, ritual, da lei, mas o sábado não é cerimonial, e sim foi proclamado solenemente por Deus com as demais regras da Lei Moral (Deuteronômio 5, Êxodo 20) e deriva da criação do mundo (Gên. 2:2, 3 cf. Heb. 4:4). A própria Tradução do Novo Mundo deixa claro que “Deus descansou no sétimo dia de todas as suas obras” em Heb. 4:4, e em Êxo. 31:17 diz que “repousou”, com o que fica claro o erro da tradução de Gên. 2:3 como “passou a repousar” (aliás, no próprio verso a mesma tradução diz, “nele tem repousado de toda a sua obra”, indicado o tempo verbal PASSADO).
Quando Hebreus foi escrito, tanto o seu autor quanto os seus leitores primários sabiam que o véu do Templo se havia rasgado de alto abaixo quando Cristo morreu sobre o cimo do Calvário (Mat. 27:51), e entendiam o sentido do cerimonialismo todo de Israel como abolido, não as leis morais.
8 – Em Mat. 5:17-20, no primeiro discurso de Cristo para grandes multidões (o que inclui Seus discípulos, continuadores de Sua obra), Ele não declara só que não veio abolir a lei mas cumpri-la, como diz a Seus ouvintes que deviam cumprir TUDO da lei, até seus mandamentos menores, do contrário não teriam justiça superior à dos escribas e fariseus.
9 – Em Mat. 23:1-3, no último discurso de Cristo a grandes multidões (o que incluiu Seus discípulos, continuadores de Sua obra), Cristo confirma que TUDO da lei devia ser cumprido por eles, segundo ensinavam seus líderes religiosos, só não devendo ser hipócritas como eles, à base do “façam como eu digo, mas não como faço”. Nesse TUDO está inescapavelmente incluído o preceito do sábado.
10 – A divisão das leis como “Moral”, “Cerimonial” ou “Civil” não é expressa em palavras, mas em fatos. Só os 10 Mandamentos foram proferidos solenemente por Deus, e escritos por Seu próprio dedo nas tábuas de pedra, sendo a primeira e única vez na história que todo o povo reunido ouviu diretamente a voz de Deus (Deu. 5:1-22). É dito que após proferir essa lei, Deus “nada acrescentou” e a escreveu nas tábuas de pedra. Essa lei é inteiramente diferente de todas as demais leis que Deus transmitiu ao povo mediante Moisés.
Se os termos “Moral”, “Cerimonial” e “Civil”, referindo-se à lei divina, não aparecem na Bíblia, também dela não constam as palavras “teocracia”, “corpo governante”, “onisciência”, “onipotência”, “onipresença”, “ascensão”, “milênio” e tantos outros termos ligados a estudos e questões teológicas e religiosas. Paulo fala de regras outrora importantes da lei que agora não mais importam, sendo que o que importa agora aos cristãos é “obedecer os mandamentos de Deus” (1 Cor. 7:19). Assim, ele mesmo mostra uma divisão das leis.
Estamos às ordens para um estudo mais detalhado, numa base de diálogo construtivo, como eu propus, com divisão de tempo para cada participante. O convite fica estendido ao prezado amigo, sua esposa ou qualquer outro de seus irmãos na fé em nossa residência.
Ah sim, veja junto com esta uma fotocópia de páginas do livro das próprias Testemunhas de Jeová que expõe muito bem o tema da lei divina e a diferença entre Lei e Concerto, como é o caso do livro de 1927 Criação, págs 340 e 341, e do livro Inimigos, de 1937, pág. 81.