Eu acredito numa vinda em duas fases, o arrebatamento e o "glorioso aparecimento". Normalmente dispensacionalistas procuram facilitar os termos chamando o "arrebatamento" apenas de "arrebatamento", já que este é um evento distinto da aparição de Cristo ao mundo. E chamam essa aparição ao mundo de "segunda vinda". Então, nas minhas participações, a primeira fase da segunda vinda de Cristo eu simplificarei para "arrebatamento", e a segunda fase da segunda vinda (o aparecimento glorioso ao mundo) eu simplificarei para "segunda vinda". Entendido?
Bem, aqui seguem minhas razões para acreditar em um arrebatamento pretribulacional.
(1) O caráter de iminência do arrebatamento. Um evento iminente é aquele que para ocorrer, não depende de nenhum outro evento. O dicionário define iminente como “independente, que ameaça cair sobre alguém ou alguma coisa, ou suceder a qualquer instante”.[1] Um evento iminente, portanto, é aquele que pode ocorrer a qualquer momento. Se um evento X precisa ocorrer antes do evento Y, então o evento Y não é iminente.
O arrebatamento é um evento iminente? A Escritura ensina que sim. Eis os textos: 1Co 1.7; 16.22; Fp 3.20; 4.5; 1Ts 1.10; 5.6; 1Tm 6.14; Tt 2.13; Hb 9.28; Tg 5.7–9; 1Pe 1.13; Jd 2.1; Ap 3.11; 22.7, 12, 17, 20. Todos esses textos apresentam características em comum: (1) Estão relacionados diretamente à Igreja, não a Israel. (2) Afirmam que estamos esperando ou ordenam esperar a pessoa de Jesus Cristo. (3) Não dizem quando Ele virá, nem dão qualquer sinal de quando Ele virá.
Essas características nos dão a base para uma volta iminente de Cristo para a Igreja, e todas elas precisam ser satisfeitas. Se as passagens acima estivessem relacionadas com Israel, não poderíamos falar em iminência, porque o retorno de Cristo para Israel não pode ocorrer senão depois da tribulação. Se as passagens acima indicassem que antes de Cristo quem se manifestará é o Anticristo, também não se poderia falar em uma volta iminente de Cristo para a Igreja. E finalmente, o fato de as passagens acima não falarem nada sobre quando Cristo virá e nem oferecer sinais de sua vinda, é um fator crucial para estabelecer a iminência da volta de Cristo para a Igreja, ou seja, o arrebatamento. Se um sinal específico para o arrebatamento é dado, então o arrebatamento não pode ocorrer enquanto esse sinal específico não tiver sido visto. Não há sinais específicos para o arrebatamento, portanto, ele pode ocorrer a qualquer momento.
Obviamente a Igreja de hoje pode justificar sua crença na proximidade do arrebatamento baseada em eventos que parecem mostrar que o palco da tribulação está se armando. No entanto, os eventos que parecem mostrar a proximidade da tribulação não são sinais do arrebatamento especificamente. Aliás, o Espírito Santo pode segurar a armação do palco da tribulação por mais dois mil anos se Ele quiser (2Ts 2.7-8 ). Noutras palavras, nenhuma geração pode estar absolutamente segura de que o arrebatamento ocorrerá em sua época, por mais que assista eventos que parecem assim indicar. Ao mesmo tempo, todas as gerações devem estar prontas para o arrebatamento ocorrer a qualquer momento. De fato, como temos dito, o arrebatamento em si não goza de sinal algum, e é exatamente esse o fator mais crucial para estabelecer sua iminência: Absolutamente nada precisa ocorrer antes dele.
(2) O caráter da septuagésima semana de Daniel. Daniel profetizou setenta semanas de sete anos sobre Israel. A última semana de anos profetizada por Daniel é os sete anos de tribulação. Embora a tribulação envolva todas as nações gentílicas (Is 34.2; Ap 3.10), ela é primariamente para Israel (Dn 9.24; 12.1; Jr 30.7). O objetivo é trazer Israel ao arrependimento (Zc 12.10-14) e à purificação (Zc 13.9). Visto que a Igreja é distinta tanto de Israel quanto dos gentios (1Co 10.32), não há propósito para a Igreja durante a tribulação e, portanto, a Igreja não passará por ela. Steven L. McAvoy conclui: “A presença da Igreja na terra durante a tribulação não é apenas desnecessária; é incongruente com os propósitos do período da tribulação”.[3]
(3) A necessidade de Deus terminar o seu plano com a Igreja. Este argumento tem estreita relação com o anterior, de modo que na prática, formam um só argumento. Ainda baseados na distinção entre Israel e Igreja, devemos notar que a Igreja é uma interrupção no plano de Deus para com Israel. Disto, segue-se que Deus deve terminar o seu plano com a Igreja para que possa retomar seu plano com Israel (At 15.13-17; Rm 11.25-27). O arrebatamento é o evento que termina o plano de Deus para a Igreja neste mundo. A tribulação é a próxima etapa do plano de Deus para Israel. Portanto, o arrebatamento ocorre antes da tribulação.
(4) A necessidade de intervalo. Um intervalo de tempo é necessário para o cumprimento de certos eventos proféticos como o tribunal de Cristo e as bodas do Cordeiro. Isto não pode ocorrer entre a segunda vinda e o início do milênio porque, primeiramente, nesse período Cristo estará ocupado com o julgamento das nações gentílicas (Mt 25.31-45), após o que começará o milênio (v.46). Segundo, o Apocalipse mostra que o casamento entre Cristo e a Igreja já terá ocorrido no céu (Ap 19.7-8 ) e, portanto, também o tribunal de Cristo.
(5) O premilenismo. A passagem de Mateus 25.32-33 mostra as ovelhas (salvos) e os bodes (ímpios) misturados entre si e reunidos diante do trono do Filho do Homem na terra, e em seguida sendo separados, respectivamente à sua direita e esquerda. Mas se essas ovelhas são arrebatadas simultaneamente à segunda vinda, então a separação entre ovelhas e bodes ocorre antes do estabelecimento do trono na terra, e da reunião deles diante do Filho do Homem, ou seja, exatamente na ordem contrária à narrativa da passagem. Na perspectiva prémilenista, essas ovelhas, isto é, crentes que vierem a Cristo durante a tribulação e sobreviverem a ela, estarão em seus corpos naturais durante o milênio, e terão ocupações naturais, como por exemplo, gerar filhos (Is 65.23). Mas se essas ovelhas forem arrebatadas simultaneamente à segunda vinda, não restará ninguém em corpo natural para cumprir essas profecias. Por outro lado, se o arrebatamento for prétribulacional, então resta o espaço de sete anos da tribulação para que homens e mulheres venham à fé em Cristo, os quais evidentemente não serão trasladados para terem seus corpos glorificados, podendo assim cumprir as profecias sobre o reino milenar.
(6) Promessas de livramento. Há no mínimo duas promessas explícitas de livramento da tribulação. Uma terceira é discutida. Primeiramente, temos uma promessa de livramento da tribulação na primeira epístola aos tessalonicenses. Paulo escreve que “Deus não nos destinou para a ira”. A “ira” Divina inclui tanto o juízo do fogo eterno (Rm 2.5-9; 2Ts 2.16) quanto os juízos da tribulação (Is 13.13; 26.20; Sf 2.2-3; 3.8; Ap 6.16; 11.18; 14.10, 19; 15.1, 7; 16.1, 19; 19.15). Visto que a frase “Deus não nos destinou para a ira” aparece num contexto no qual Paulo trata sobre a vinda de Cristo e a tribulação, então indubitavelmente “ira” aqui é sinônimo da tribulação. Portanto, a frase significa que Deus não nos destinou para a tribulação.
Em 1Tessalonicenses 1.10 Paulo também afirma que Jesus “nos livra da ira futura”. Aqui a frase não está num contexto sobre a tribulação, mas fala sobre a vinda de Cristo. Paulo parece estar dizendo que é através de sua vinda que Cristo “nos livra da ira futura”. Portanto, a ira aqui é sinônima da tribulação ou no mínimo a inclui.
Em Romanos 5.9 também é dito que nós “seremos por Ele salvos da ira”. Isto é interpretado por alguns como outra promessa de livramento da tribulação, já que o termo ira inclui a tribulação como uma das nuanças de seu significado. Talvez Paulo tivesse a tribulação mente também, porém aqui ele fala mais especificamente sobre o juízo da separação eterna de Deus, já que o contexto trata sobre justificação e reconciliação.
A segunda promessa de livramento da tribulação é feita pela boca do próprio Senhor Jesus Cristo no livro do Apocalipse: “Porque guardaste a minha ordem para perseverar, Eu também te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra” (Ap 3.10). Os pretribulacionistas afirmam que esse texto promete preservar a Igreja da hora da tentação tirando-a da terra. Os postribulacionistas afirmam que esse texto promete preservar a Igreja enquanto ela passa pela tribulação. Jeffrey Townsend observa que se os cristãos passarão pela maior perseguição da história sob o Anticristo e Satanás, então em que sentido Deus os preservará na tribulação?[4] Além disso, a interpretação postribulacionista, embora possível gramaticalmente, é enfraquecida também pelo grego da passagem. Se a promessa fosse de preservação dentro e durante a tribulação, uma preposição grega como en ou para seria o mais adequado. No entanto, a preposição aqui é ek, que conforme demonstrado por Townsend através de comparação no uso joanino, “indica que a posição pretribulacionista é não apenas possível, mas provável”.[5] Outro ponto a notar é que a passagem promete livrar da hora da tentação, e não apenas da tentação. Charles Ryrie observa: “É impossível estar em um lugar onde algo está acontecendo e ser livrado do tempo do acontecimento”.[6]
A terceira promessa de livramento é discutida entre os pretribulacionistas. Trata-se do texto de 2Tessalonicenses 2.3, no qual a interpretação do substantivo grego αποστασια (apostasia – Almeida Corrigida) é debatida. A versão King James, de 1611, interpreta o substantivo como se referindo a um abandono da fé e, portanto, traduz como “fallen away” (queda). Essa interpretação tornou-se tão popular que praticamente não existem traduções em inglês pós 1611 que não traduza de forma equivalente à interpretação da versão King James. Outra interpretação que o mencionado substantivo grego já recebeu é a de que ele se refere ao Anticristo. Essa interpretação de Agostinho era popular nos primeiros séculos da Igreja, mas poucos a adotam hoje.[7] Uma terceira interpretação do discutido substantivo é a de que ele se refere ao arrebatamento. Essa interpretação é adotada por uma minoria hoje, mas os que a adotam são considerados estarem entre os maiores especialistas em profecia bíblica, como Tim Lahaye (autor da série Deixados para trás), Thomas Ice, H. Wayne House e Stanley A. Ellisen. De fato, o substantivo grego em disputa fora traduzido como partida pelas sete versões em inglês antes da versão King James. No século IV Jerônimo a traduziu como discessio (partida).[8] Na literatura grega clássica e na Septuaginta, o termo refere-se a uma rebelião religiosa ou militar na maior parte dos casos, mas em outros casos refere-se simplesmente a uma partida.[9] Somente o contexto pode decidir a questão. Olhando para o contexto, fico convencido de que 2Tessalonicenses 2.3 refere-se ao arrebatamento. Paulo escreveu essa segunda carta para corrigir a errônea crença dos tessalonicenses, que por causa de falsos ensinos pensavam que o “dia do Senhor” (2.2) estava “presente”. (Dia do Senhor é uma das formas de se referir à tribulação). Paulo então os exorta dizendo que o dia do Senhor, isto é, a tribulação, não pode estar presente sem que antes venha “a partida”, ou seja, o arrebatamento. Obviamente há réplicas e tréplicas para essa interpretação, sobres as quais nosso limitado espaço não permite tratar, mas creio que essa é a interpretação mais plausível dentro do contexto específico de 2Tessalonicenses. Embora seja a interpretação da minoria, como dissemos, é uma minoria muito capaz no tocante à profecia bíblica.
(7) O problema adjacente à 1Tessalonicenses 4.13-18. J. Dwight Pentecost lança o seguinte argumento em favor do pretribulacionismo:
Se os tessalonicenses acreditassem que a igreja passaria pela tribulação, se regozijariam por alguns de seus irmãos terem escapado daquele período de sofrimento e estarem com o Senhor sem experimentar o derramamento de Sua ira. Eles estariam louvando ao Senhor pelos irmãos que foram poupados desses acontecimentos, em vez de pensar que eles tivessem perdido algumas das bênçãos do Senhor. Esses cristãos evidentemente acreditavam que a igreja não passaria pela septuagésima semana e, na expectativa do retorno de Cristo, lamentavam por seus irmãos, a respeito de quem pensavam que perderiam a bênção do acontecimento.[10]
Conclusão.
Outros argumentos para o pretribulacionismo são lançados além dos que aqui abordamos, como o argumento sobre a identidade dos vinte e quatro anciãos de Apocalipse 5, que caso representem a Igreja (o que eu creio ser o caso), força a passagem a ensinar um arrebatamento pretribulacional. No entanto, por falta de espaço reunimos aqui apenas alguns dos principais argumentos, que sustentam com folga a posição pretribulacionista. É preciso lembrar ainda que mesmo que todos esses argumentos falhem (o que não acontece), os postribulacionistas ainda precisam mostrar evidência favorável à sua posição, pois se é verdade que não há nenhuma passagem que especificamente fale que a Igreja será arrebatada antes da tribulação, também não há nenhuma que especificamente diga que a Igreja passará por ela. O mesmo vale para as outras duas posições concorrentes.
O arrebatamento é um evento para ser não só estudado, mas principalmente amado pela Igreja (2Tm 4.8 ). Crer no arrebatamento como um evento que pode ocorrer a qualquer momento impulsiona o crente à santificação (Tt 2.11-13; 1Jo 3.2-3).
Notas.
[1] Dicionário Brasileiro Globo.
[2] COMBS, Jim. Mistérios no Novo Testamento. Bíblia de Estudo Profética, p.1088.
[3] MCAVOY, Steven L. Some problems with posttribulationism. Disponível em pre-trib.org/articles. Acesso em 08 de julho. 2012.
[4] TOWNSEND, Jeffrey L. The rapture in Revelation 3.10. Disponível em pre-trib.org/articles. Acesso em 04 de julho. 2012.
[5] Ibid.
[6] RYRIE, Charles. A survey of Bible doctrine, p.170, apud TOWNSEND, Ibid.
[7] City of God, 20.19, apud HOUSE, H. Wayne. A defense of the Rapture in 2 Thessalonians 2.3. Disponível em pre-trib.org/articles. Acesso em 06 de julho. 2012.
[8] HOUSE, ibid.
[9] ELLISEN, Stanley. A. The apostasy as it relates to the Lord’s return. Disponível em
pre-trib.org/articles. Acesso em 06 de julho. 2012.
[10] PENTECOST, J. Dwight. Manual de Escatologia, p.270.
Este é um estudo de minha autoria. Portanto, por favor, não apaguem minha postagem.