Ora, bom irmão, se os próprios nicenos (veja que ele fala até os LÍDERES) estavam indecisos e divididos, como testemunha Basílio e somado a eles os outros grupos, como seria o dogma da trindade, doutrina essencial, antes de ela ser decretada essencial? Por sinal, está aqui mais uma prova que NÃO É VERDADE que Niceia apenas homologou o que já se cria geralmente na igreja!
Até parece que os arianos era unidos. Quantas heresias cristológicas e trinitárias houveram ? A própria divisão entre os arianos ajudou na sua derrocada posterior.
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As diferenças teológicas eram marca registrada da Igreja primitiva. Havia diferenças enormes entre muitos pais da igreja, algusn dos quais, chegavam a defender doutrinas como a pré-existência da alma e a re-encarnação.
Quando Constantino se converte, espera que a fé seja o cimento de seu império, mas não poderia sê-lo com bispos se excomungando e cristãos se enfrentando por conta de divergências teológicas. O objetivo dos concílios era acabar com essa confusão.
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Sobre testemunhos pré-nicenos que desabonam o arianismo posterior, já falamos de algumas, mas acresçamos outras, compiladas em http://www.veritatis.com.br/patristica/patrologia/434-a-doutrina-da-santissima-trindade-nos-padres-pre-nicenos:
INÁCIO DE ANTIOQUIA (110 D.C.)
"Existe um médico, no entanto, que é carnal além de espiritual, gerado e não gerado, Deus feito carne, filho de Maria e Filho de Deus, primeiro passível e depois impassível: Jesus Cristo, nosso Senhor" (Epístola aos Efésios 7,2)
"A verdade é que nosso Deus Jesus, o Ungido, foi levado por Maria em seu seio conforme a dispensação de Deus, certamente da descendência de Davi, mas por obra do Espírito Santo. Ele nasceu e foi batizado a fim de purificar a água com a sua Paixão" (Epístola aos Efésios 18,2).
Eu glorifico a Jesus Cristo, Deus, que é quem os tem feito sábios até tal ponto, pois percebi muito bem de quão mergulhados estais da fé imutável, como se estivésseis pregados, em carne e espírito, na cruz de Jesus Cristo" (Epístola aos Esmirniotas 1,1)
Atenágoras de Atenas (século II)
"Assim, pois, suficientemente resta demonstrado que não somos ateus, pois admitimos um só Deus incriado e eterno, e invisível, impassível, incompreensível e imenso, apenas pela inteligência compreensível à razão... Quem, portanto, não se surpreenderá de ouvir chamar de 'ateus' aqueles que admitem um Deus Pai, um Deus Filho e um Espírito Santo, que demonstram seu poder na unidade e sua distinção na ordem?" (Súplica em Favor dos Cristãos 10).
Taciano, o Sírio (século II)
"Porque não estamos loucos - ó helenos - nem pregamos loucuras quando anunciamos que Deus apareceu na forma humana. Vós que nos insultais, comparai os vossos mitos com as nossas narrações" (Discurso contra os Gregos 21).
MELITÃO DE SARDES (SÉC. II)
"Porque nascido como Filho, conduzido como cordeiro, sacrificado como ovelha, sepultado como homem, ressuscitou dos mortos como Deus, sendo por natureza Deus e homem. Ele é tudo: quando julga, é Lei; quando ensina, é Verbo; quando salva, é Graça; quando gera, é Pai; quando é gerado, é Filho; quando sofre, é ovelha sacrificial; quando é sepultado, é homem; quando ressucita, é Deus. Este é Jesus Cristo, a quem seja dada a glória pelos séculos dos séculos" (Homilia sobre a Paixão 8-10).
IRENEU (140-202 D.C.)
"A Igreja, estendida pelo orbe do universo até os confins da terra, recebeu dos Apóstolos e de seus discípulos a fé em um só Deus Pai soberano universal 'que fez os céus e a terra e o mar e tudo quanto neles existe'; e em um só Jesus Cristo Filho de Deus, que se encarnou para a nossa salvação; e no Espírito Santo, que pelos profetas proclamou as economias e o advento, a geração por meio da Virgem, a Paixão, a ressurreição dentre os mortos e a ascensão aos céus do amado Jesus Cristo nosso Senhor; e seu [novo] advento dos céus, na glória do Pai, para recapitular todas as coisas e para ressuscitar toda carne do gênero humano, de forma que diante de Jesus Cristo, nosso Senhor, Deus, Salvador e Rei, segundo o beneplácito do Pai invisível, 'todo joelho se dobre no céu, na terra e nos infernos, e toda língua o confesse'. Ele julgará todos justamente: os 'espíritos do mal', os anjos que caíram, os homens apóstatas, ímpios, injustos e blasfemos, para enviá-los para o fogo eterno; e para dar como prêmio, aos justos e santos que observam os seus mandamentos e perseveram no seu amor, alguns desde o princípio, outros a partir de sua conversão, a vida incorruptível, rodeando-os da luz eterna.
Como dissemos antes, a Igreja recebeu esta pregação e esta fé, e estendida por toda terra, com cuidado a guarda, como se habitasse em uma só família. Conserva uma só fé, como se tivesse uma só alma e um só coração, e a prega, ensina e transmite com a mesma voz, como se não tivesse senão apenas uma só boca. Certamente, são diversas as línguas, segundo as diversas regiões; porém, a força da Tradição é uma e a mesma. As igrejas da Germânia não crêem de maneira diversa, nem transmitem outra doutrina diferenta da que pregam as da Ibéria ou a dos celtas, ou as do Oriente, como as do Egito ou Líbia, assim como, tampouco, das igrejas constituídas no centro do mundo. Assim como o sol, que é uma criatura de Deus, é um e o mesmo em todo o mundo, assim também a luz, que é a pregação da verdade, brilha em todas as partes e ilumina todos os seres humanos que querem conhecer a verdade. E nem aquele que se sobressai por sua eloquência entre os chefes da Igreja prega coisas diferentes destas, pois nenhum discípulo está acima de seu Mestre, nem o mais débil na palavra recorta a Tradição; sendo uma e a mesma fé, nem o muito que pode explicar sobre ela aumenta, nem o menos a diminui" (Contra as Heresias 1,10,1-2).
"Que ninguém entre todos os filhos de Adão seja chamado Deus por si mesmo ou proclamado Senhor o demonstramos pelas Escrituras. E que apenas Ele [Jesus], entre todos os homens de seu tempo, seja proclamado Deus, Senhor, sempre Rei, Unigênito e Verbo encarnado, por todos os Profetas e Apóstolos e ainda pelo próprio Espírito, é algo que podem constatar todos aqueles que aceitam um mínimo de verdade" (Contra as Heresias 3,19,2).
CLEMENTE DE ALEXANDRIA (MEADOS DO SÉC. II - ANTERIOR A 215)
"A Palavra, então, o Cristo, é a causa de nosso antigo princípio - porque Ele estava com Deus - de nosso bem-estar. E agora esta mesma Palavra apareceu como homem. Apenas Ele é Deus e Homem, e fonte de todas as coisas boas. É por Ele que nos ensina a viver bem e, então, somos mandados para a vida eterna (...) Ele é o cântico novo, a manifestação que agora nos foi feita, da Palavra que existiu no princípio e antes do princípio. O Salvador, que existiu antes, apareceu apenas posteriormente. Ele, que apareceu, está Nele que é, pela Palavra que estava com Deus, a Palavra pela qual todas as coisas foram feitas; apareceu como nosso Mestre e Ele, que nos concedeu a vida no princípio quando, como nosso Criador, Ele nos formou; agora que Ele apareceu como nosso Mestre, nos ensinou a viver bem de modo que, logo, como Deus, poderá nos dar abundância na vida eterna" (Exortação aos Gregos 1,7,1).
"Desdenhado na sua aparência, porém, na verdade adorado, o Expiador, o Salvador (...), a Palavra divina, Ele que é absolutamente e evidentemente Deus verdadeiro, Ele que está no mesmo nível do Senhor do universo porque era seu Filho e a Palavra estava com Deus" (Exortação aos Gregos 10,110,1)
"Meus filhos: nosso Instrutor é como seu Deus, o Pai, pois é Filho Dele: livre de pecado, livre de culpa e com a alma livre de Paixão. Deus em forma de homem, inoxidável; o ministro de seu Pai, a Palavra que é Deus; que está no Pai, que é a mão direita do Pai; e, com a forma de Deus, é Deus. Ele é para nós uma imagem irrepreensível..." (O Pedagogo 1,2)
TEÓFILO DE ANTIOQUIA (SÉC. II)
Os três dias que precedem a criação dos luzeiros são símbolo da Trindade, de Deus, de seu Verbo e de sua Sabedoria" (A Autólico 2,15)
"Sim, Deus, o Pai do universo, é imenso e não se encontra limitado a um lugar, pois não há lugar para seu descanso. Mas seu Verbo, pelo qual fez todas as coisas, como potência e sabedoria sua que é, tomando a figura do Pai e Senhor do universo, este é que se apresentou no jardim sob a figura de Deus e que conversava com Adão. Com efeito, a própria divina Escritura nos ensina que Adão disse ter ouvido a sua voz; e essa voz que outra coisa seria senão o Verbo de Deus, que é também seu Filho? Filho não do modo como falam os poetas e mitógrafos - que os filhos dos deuses nascem pela união carnal - mas como a verdade explica que o Verbo de Deus está sempre imanente no coração de Deus. Porque antes de criar do nada, a Este tinha por conselheiro, como mente e pensamento Seu que era. E quando Deus quis fazer o que tinha deliberado, gerou a este Verbo proferido (προφορικ?ν) como primogênito de toda criação, não esvaziando-se de seu Verbo, mas gerando o Verbo e conversando sempre com Ele. Por isso, nos ensinam as Sagradas Escrituras e todos os inspirados pelo Espírito, dentre os quais João: 'No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus', dando a entender que no princípio estava apenas Deus e Nele seu Verbo; e logo diz: 'E o Verbo era Deus'" (A Autólico 2,22).
TERTULIANO (160-220 D.C.)
"Para a mesma Igreja é, propriamente e principalmente, o próprio Espírito, no qual está a Trindade de uma Divindade: Pai, Filho e Espírito Santo" (Da Modéstia 21).
"Se a pluralidade na Trindade te escandaliza, como se não estivesse ligada na simplicidade da união, te pergunto: como é possível que um ser, que é pura e absolutamente um e singular, fale no plural: 'Façamos o homem à nossa imagem e semelhança'? Não deveria, antes, ter dito: 'Eu faço o homem à minha imagem e semelhança', já que é um Ser único e singular? No entanto, na passagem que segue, lemos: 'Eis que o homem foi feito como um de nós'. Ou Deus nos engana ou goza de nós ao falar no plural, já que Ele é único e singular. Ou será que se dirigia aos anjos, como interpretam os judeus, já que não reconhecem o Filho? Ou será que Ele, sendo Pai, Filho e Espírito, falava no plural, considerando-se múltiplo? Certamente, a razão é porque tinha ao seu lado uma segunda Pessoa, seu Filho e Verbo, e uma terceira Pessoa, o Espírito no Verbo. Por isso, empregou deliberadamente o plural: 'Façamos - nossa imagem - um de nós'. Com efeito, com quem criava o homem? À semelhança de quem o criava? Falava, por um lado, com o Filho, que deveria um dia se revestir da carne humana; por outro lado, [falava] com o Espírito, que devia um dia santificar o homem, como se falasse com outros tantos ministros e testemunhas" (Contra Praxéas 12).
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Tantos outros poderíamos citar, mas isso basta para provar que a Doutrina Trindade não foi obra de um Concílio do século IV ou de um Imperador Romano. É uma compreensão que se desenvolve e chega a pleno esclarecimento no século IV, donde doravante constitui-se em doutrina fundamental, vez que vencida a ignorância e as heresias.
"A heresia, a qual supõe por si mesma possuir a pura verdade, pensando que não se pode crer que um só Deus de nenhum outro modo a não ser dizendo que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são a mesma Pessoa, como se neste modo um também não fosse todos, em que todos são um, por unidade de substância, enquanto o mistério da dispensação é, todavia, guardado, o qual distribui a Unidade na Trindade, colocando em sua ordem as três Pessoas - o Pai, o Filho e o Espírito Santo; três, mas não em condição e sim em grau, não em substância e sim em forma, não em poder e sim em aspecto" (Contra Praxéas 2).