Caro irmão Pereira,
Fique certo, prezado irmão, que o tópico está sendo tratado com respeito e não poderia ser diferente. Considerando o tema a Moderação atuará sistematicamente para que tudo siga na mais perfeita ordem.
Os irmãos trinitários buscam, pelo fato de a Bíblia não apresentar Deus como sendo uma essência e três hipóstases, tudo que for possível dentro da Bíblia para tentar provar alguma pluralidade de pessoas na deidade, e como você citou já o fazem com o primeiro versículo da Bíblia: “No princípio criou Deus”. “Deus” nas escrituras hebraicas é Elohim (Ulhim) que é a forma plural de Eloah, essa última é mais comum no livro de Jó. Vale ressaltar que nos originais da Bíblia, seja hebraico, aramaico ou grego não havia distinção capitular nos caracteres, ou seja, todas as letras eram escritas do mesmo tamanho, assim, a tradução para as nossas Bíblias da palavra elohim, por exemplo, por “Deus” ou “deus” ou ainda “deuses” vai depender da compreensão que o tradutor tem de determinada passagem. Para se ter uma idéia o termo “elohim” (deus) aparece mais de 2.500 vezes no Antigo Testamento hebraico, sendo que nada menos que 240 ocorrências não se referem ao Deus Eterno, de modo que seus outros usos não podem ser considerados exceções. Em alguns casos vemos que o termo é aplicado individualmente a falsos deuses pagãos em, pelo menos, 19 ocorrências: A Baal, 5 vezes (Jz 6.31; 1Rs 18.24,25,27; Jz 8.33); a Quemós, 2 vezes (Jz 11.24; 1Rs 11.33); a Milcom, 1 vez (1Rs 11.33); a Dagom, 5 vezes (Jz 16.23,24; 1Sm 5.7); a Baal Zebube, 4 vezes (2Rs 1.2,3,6,16); a Nisroque, 2 vezes (2 Rs 19.37; Is 37.38). Aqui se poderia questionar a legitimidade dessas falsas divindades serem chamadas de “deus” e, de fato, dentro do contexto bíblico, baseado em Gl 4.8, eles não têm legitimidade, mas o uso da palavra aplicada a elas, por si só, já descarta a reivindicação da existência implícita da trindade em “elohim”; uma suposta pluralidade de pessoas na palavra, pois cada uma dessas falsas divindades não são uma trindade por serem chamadas de elohim. Destaque-se que tal termo também é aplicado a homens. Quando lemos a palavra “juízes” em nossas Bíblias, por exemplo, em Ex. 21.6 “então seu senhor o levará perante os juízes, e o fará chegar à porta, ou ao umbral da porta, e o seu senhor lhe furará a orelha com uma sovela; e ele o servirá para sempre.” ou Ex. 22.28 “Aos juízes não maldirás, nem amaldiçoarás ao governador do teu povo”, se lêssemos em uma Bíblia hebraica estaríamos lendo “elohim”, ou seja “deus” ou “deuses” ao invés de “juízes”, como ocorre no conhecido Salmo citado por Jesus, Sl. 82.6 “Eu disse: Vós sois deuses (elohim), e filhos do Altíssimo, todos vós”.
Leiamos, mais um exemplo, I Sm. 2.25 “Pecando homem contra homem, os juízes o julgarão; pecando, porém, o homem contra Yahweh, quem rogará por ele? ...”, a expressão “juízes” é tradução da palavra “elohim”, tanto que há bíblicas, como, por exemplo, a Bíblia de Jerusalém que prefere traduzir “Se um homem comete uma falta contra outro homem, Deus o julgará; mas se pecar contra Iahweh, quem intercederá por ele?...”. O simples fato da palavra poder ser traduzida por “juizes” e por “Deus” mostra que não há qualquer implicitude de pluralidade de pessoas na deidade por causa da palavra em si, pois os juízes eram representantes de Deus e não ELE próprio e cada juiz não era mais de uma pessoa, de modo que aplicar ou subentender algum “caráter trinitário” em elohim é plenamente arbitrário, pois nenhum juiz de Israel era componente de uma trindade.
A exemplo da palavra Elohim, há que ser notado que a palavra Senhor (Adonay), inclusive se referindo a uma pessoa, é, também, usada no plural no Antigo Testamento. (cf. Gênesis 24:9, 51; 39:19; 40:1), mas adoni, por exemplo nunca é usado para designar Deus.
“O doutor William Smith da Universidade de Londres, um século atrás, foi descrito como o 'mais eminente lexicógrafo do mundo de língua Inglesa'. A seguinte afirmação encontra-se no Dicionário Bíblico que o doutor Smith editou: “A forma plural Elohim tem dado origem à muita discussão. A idéia fantasiosa de que refere-se à trindade de pessoas na Divindade, dificilmente encontra agora algum partidário entre eruditos. Ou é o que os gramáticos chamam “plural de majestade” ou então denota a plenitude da força divina, a soma de poderes revelados por Deus” (Smith, William. “A Dictionary of the Bible” Philadelphia: American Baptist Publication Society, 1863, pág. 216)
Dizemos que ELE estava acompanhado já por compreensão reflexiva do Novo Testamento, mas poderíamos dizer que Ele usou o plural como o rei Artaxerxes usou (ou vice-versa) em Ed. 4.18 "A carta que nos enviastes foi explicitamente lida diante de mim." Ao dizer "nos enviastes" o rei não estava falando de mais ninguém além dele mesmo, pois a carta conforme atesta o verso 8 foi endereçada apenas a ele: "Escreveram, pois, Reum, o chanceler, e Sinsai, o escrivão, uma carta contra Jerusalém, ao rei Artaxerxes...".
Outro detalhe é que o plural "façamos", por exemplo, não condiciona o entendimento de que devamos esperar seres co-iguais criando o homem. Quando lemos Heb. 1.2 "A quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo.", mostra que Deus constituiu Jesus herdeiro e foi através dele que ELE, DEUS, fez o mundo, e Ef. 3.9 "E demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo;" Vemos a mesma idéia de Hb. 1.2 onde se diz que o Filho é o meio pelo qual as coisas foram feitas, mas, como se percebe, os versos não dizem que eles são o mesmo Deus pelo fato de Deus ter criado tudo através de seu Filho.
Shalom!
Valdomiro.