(continuação 1)
Os argumentos principais apresentados pelos aniquilacionistas são estes:
1) há algumas referências para DESTRUIÇÃO dos ímpios, conforme se vê em Fp 3:19, I Ts 5:3; II Ts 1:9; II Pe 3:7
2) não há coerência em pregar um Deus de amor que daria um castigo eterno e consciente para os ímpios;
3) haveria injustiça da parte de Deus pela DESPROPORÇÃO entre pecados feitos por um curto espaço de vida humana (no máximo um século) e um castigo de duração eterna (séculos dos séculos);
4) a presença eterna de criaturas não salvas jamais permitiria que Deus estabelecesse a perfeição em sua criação do universo, que poderia refletir sua glória divina.
5) Os termos bíblicos para “inferno” significam cova ou sepultura e não um lugar de castigo.
6) Não é possível que o fogo e o enxofre mencionados em Apocalipse sejam literais, pois almas não sentem efeito do fogo, nem mesmo os anjos que seriam ali lançados (o diabo e seus anjos)
7) A comparação de Apocalipse se refere a um lugar próximo a Jerusalém, chamado Vale de Himnon, onde lixo e cadáveres eram queimados e destruídos. Não existe um lugar de natureza espiritual, portanto, pois os textos de Apocalipse seriam apenas alegorias ilustrativas.
Vamos analisar argumento por argumento.
Utilizarei a própria Bíblia utilizada pelas Testemunhas de Jeová, a Tradução do Novo Mundo das Escrituras (TNM), para que não haja alegações que estou “deturpando” a tradução dos originais!
1) As passagens mais usadas como argumento para “destruição” são as seguintes:
Filipenses 3:19: e o seu fim é a destruição, e o seu deus é o seu ventre, e a sua glória consiste na sua vergonha, eles fixam as mentes nas coisas da terra”
II Pe 3:7: Mas, pela mesma palavra, os céus e a terra que agora existem estão sendo guardados para o fogo e estão sendo reservados para o dia do julgamento e da destruição dos homens ímpios.
I Ts 5:3: Quando estiverem dizendo “Paz e segurança!” então lhes há de sobrevir repentina destruição, assim como as dores de aflição vem sobre a mulher grávida, e de modo algum escaparão.
II Ts 1:9: Estes mesmos serão submetidos à punição judicial da destruição eterna de diante do Senhor e da glória de sua força.
Os termos todos, traduzidos como destruição na TNM não significam destruição com aniquilação total!
Nos dois primeiros versículos, a palavra é APOLEIA, que usada na mesma TNM em Mateus 26:8 foi traduzida como desperdício: “Vendo isso, os discípulos ficaram indignados e disseram: Por que este desperdício (apoleia)?” O ungüento que a mulher jogara sobre a cabeça de Jesus não havia sido aniquilado, tanto que estava sobre a cabeça de Jesus, mas sim estava indo para uma situação que não poderia mais ser aproveitado de outra forma, nem por outra pessoa, nem para ser vendido. Ou seja, os próprios tradutores da TNM demonstram que esse verbo não quer dizer aniquilação ou desaparecimento!
Nos dois outros versículos, outra palavra que foi empregada é OLETHROS, que é assim utilizada em I Co 5:5 na TNM: “Entregueis tal homem a Satanás, para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no dia do Senhor”. Em um duplo sentido, pois, não existe significado de aniquilação aqui: a carne do pecador excluído da Igreja não pode ser “destruída” por Satanás, mas sim pode passar pela morte física. E Paulo demonstra que mesmo depois dessa “destruição”, o espírito deste homem subsiste para o dia do Senhor, o que indica que não houve aniquilação total!
Não há na Bíblia algum termo que indique uma aniquilação total? Existe sim, e é o termo AIROS, que nunca é utilizado para se referir aos juízos ou castigos de Deus e que aparece em I Jo 3:8: “com este objetivo foi manifestado o Filho de Deus, a saber, para desfazer as obras do Diabo”.
Por ironia do destino, a TNM deixa de usar o verbo aniquilar justamente quando ele mais era devido, pois aqui o sentido é que Jesus vai DESINTEGRAR as obras do diabo, de modo que não sobre nem um resquício das mesmas!
Para se ter uma idéia de como a TNM é uma tradução mal feita e tendenciosa, duas outras traduções em português tem o significado correto do original grego:
Tradução da Bíblia Ave Maria, feita pelos monges capuchinos de Maredsous (Bélgica): “Eis porque o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do demônio”
Tradução JFA atualizada, Bíblia Thompson, Editora Vida: “Para isto se manifestou o Filho de Deus, para destruir as obras do diabo”.
Resumindo: quando é para usar o significado de aniquilação, a TNM não usa. Quando não é devido, quer usar!
2) Se existe dificuldade em harmonizar o amor de Deus com o conceito de um castigo eterno, também existe dificuldade em harmonizar este mesmo amor de Deus com qualquer tipo de castigo divino, principalmente se este for temporário. No sentido inverso, se Deus é coerente em punir ímpios por um certo tempo depois do juízo final, não seria incoerente se os punisse por um tempo interminável, pois a punição em si não está limitada em nenhum lugar nas Escrituras a períodos temporários – e quando aparece, está descrita como sendo TÃO ETERNA QUANTO O É A VIDA ETERNA!
O conceito do aniquilacionismo é que causa um caráter injusto a Deus, pois se é fato que Hitler, Stalin, Mao Tse Tung e outros monstros da humanidade dormem inconscientes e acordarão para ouvir uma breve sentença e depois deixam de existir, isso torna a Deus INJUSTO no sentido que tais homens causaram dor e sofrimento a pessoas durante um longo período de tempo na vida das mesmas – seja durante os anos nos campos de concentração, seja nos castigos na Sibéria, seja nas câmaras de tortura da China comunista, e mais ainda, durante toda a duração da vida dos filhos e descendentes que viram os pais e avós sofrerem tais horrores – e sua punição é indolor e instantânea ??!! Eu sempre achei a vida dos facínoras do cinema uma vida fácil: eles passavam o filme todo judiando, espancando e matando friamente as pessoas inocentes, que demonstravam dor e sofrimento enormes, quando de repente os tais facínoras sofrem um ataque de um minuto de um "mocinho" ou polícia e morrem rapidamente... Não estou falando em vingança olho por olho, mas de punição ao longo do tempo. Esse é o motivo pelo qual muitos países aboliram a pena de morte trocando-a pela prisão perpétua, pois na verdade um preso submetido à falta de liberdade, longe da família a maior parte do tempo e vendo o tempo escoar lentamente dentro de uma cela em prisão perpétua é uma pessoa muito mais punida do que aquele que recebe uma injeção letal e morre em segundos.
3) Indo pela mesma linha de raciocínio pela refutação nr. 2, vamos lembrar que o fundamento básico é este: a Bíblia coloca a vida dos justos tão eterna quanto o tormento dos ímpios em Mateus 25:46! Isso não tem contra-argumentação, pois saiu da boca de Jesus e não é um texto que contém alegorias ou interpretações simbólicas. E cabe aqui um pensamento extra, expressado por David Kingdom, colunista cristão americano, em seu artigo “Annihilationism: Gain or Loss?”, publicado em 1992: “Quem tem o direito de sugerir a Deus como deve ser o castigo dos pecados que foram feitos CONTRA ELE, e que feriram o seu coração?”
Fazendo uma analogia, os réus do mensalão, recentemente julgados no STF, tinham o direito de definirem suas próprias punições? Lembrando que no Juízo Final, não caberá recurso !
Esse pensamento que o castigo eterno dos ímpios não pode ser coerente pelo pouco tempo que seus pecados duraram, pode ser ter um efeito bumerangue contra o próprio aniquilacionismo: se é injusto que se compare o tempo do pecado praticado com a eternidade do castigo, então também é injusto que não dure nada o castigo, pois os pecados dos ímpios duraram sua vida toda, décadas de ofensas a Deus e contra o próprio ser humano!
Resumindo: olhando por essa ótica, o aniquilacionismo não é necessário e nem correto.
4) A alegação que Deus não poderá refletir no Universo futuro sua Glória divina se forem mantidos os condenados sob qualquer espécie de castigo e que todos sofrerão com a lembrança de entes queridos condenados não tem nenhum respaldo bíblico. Pelo contrário, a presença do mal hoje, ocorrendo livremente e aparentemente sem uma dura atuação de Deus, sendo este mesmo mal pobre e porcamente controlado pela ineficiente justiça humana, causa uma INSATISFAÇÃO no coração das pessoas, ao ponto de serem lembradas no sermão do Monte (“Bem aventurados os que tem fome e sede de justiça, porque serão fartos – Mt 5:6)”. As almas dos mártires da Grande Tribulação, sob o altar de Deus, clamavam por justiça pelo fato de seu sangue ter sido injustamente derramado e usaram a frase: “Até quando, ó VERDADEIRO e SANTO Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?” (Ap 6:10) Temos que lembrar que a justiça de Deus se manifestará justamente quando ele PUNIR o mal e TRIUNFAR sobre ele: Aleluia! A salvação, e a glória, e o poder são de nosso Deus, porquanto verdadeiros e JUSTOS são os seus juízos, pois julgou a grande meretriz que corrompia a terra com a sua prostituição e das mãos dela VINGOU o sangue dos seus servos. (...) Aleluia ! E a sua fumaça sobe pelos séculos dos séculos (Ap 19:1-3).
O que vemos depois dessa cena é que os seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostaram-se e adoraram a Deus, diante de sua vitória desta forma, e disseram “Amém! Aleluia!”.
Nós podemos ter uma visão moral distorcida pelo pecado, mas não podemos dizer nada destes seres celestiais, pois eles não estão submissos ao pecado e portanto seu julgamento é justo e de acordo com o padrão do caráter de Deus. Portanto, se eles entendem e louvam a Deus por ter triunfado de uma maneira cuja “fumaça sobe pelos séculos dos séculos”, não somos nós que vamos julgar isso forte demais ou ter uma sombra de pena pesada demais!
Sempre que pensamos no ser humano, a tendência é nos solidarizarmos e achar que o castigo eterno é um fardo duro demais. Mas é porque somos humanos. Se formos pensar que a punição eterna foi feita para o diabo e seus anjos, já não sentimos a mesma piedade deles, não é verdade?
O melhor a fazer é saber que o castigo eterno foi determinado para os tais, e temos que tentar ganhar o máximo de almas para Jesus agora, para que as pessoas também não vão para esse lugar.
Hoje, todos os chamados teólogos liberais são os primeiros a combater a doutrina do castigo eterno. São os mesmos que nomeiam pastores homossexuais, aliam-se a partidos políticos e vivem a pregar um evangelho sem santificação.
(continua... mas depois que houver tempo para todos lerem estes textos)