Clovis escreveu:
Primeira implicação da alternativa 1: os eventos já estão fixados e o universo não é contingente.
Quem concorda comigo até aqui?
Clóvis
Lógico que eu não concordo.
O simples fato de um evento ser conhecido não o torna incontingente em si mesmo. O fato de ter sido pré-anunciado por Deus, tornando-o imutável, não elimina o fato que há sim o peso de escolha no evento, com a única diferença é que o Senhor já sabia qual seria a escolha ou o rumo a ser tomado diante daquela situação.
Vejamos o que aconteceu aqui em casa. Eu estava diante da TV, em transmissão ao vivo, quando aconteceu o desfecho do sequestro da adolescente Eloá, morta pelo seu ex-namorado Lindenberg. Eu vi quando a polícia tentou desastradamente entrar e quando as moças saíram, uma viva, a outra praticamente morta.
Algumas horas depois, minha esposa que nada sabia começou a assistir o noticiário e correu para a sala para saber o que iria acontecer. Ela viu a mesma cena do arrombamento que eu tinha visto, e por um segundo, exclamou que "Aquele malvado não conseguiu fazer mal à moça?!!"
EU JÁ SABIA, por ter antevisto a cena, que a escolha do Lindemberg foi alvejar fatalmente a Eloá, mas ela não sabia. Somente depois que ela viu a cena, é que tomou conhecimento da decisão dele.
Pois bem, pergunto: o fato que eu sabia que a escolha dele era tentar matar a jovem, implicaria alguma coisa no fato que a decisão era DELE, e somente DELE ? O fato de ver um fato pela segunda vez, tendo o conhecimento prévio de qual seria a decisão do delinquente, tiraria o poder de decisão que ele estava tomando naquele momento do fato acontecendo ?
A resposta clara é NÃO. Uma coisa é saber previamente um fato, de modo que saiba como ele vai acontecer. Outra coisa bem diferente é afirmar que um prévio conhecimento tirou o poder de decisão de uma pessoa, decisão que somente ela pode tomar.
Na Bíblia, mesmo eventos que foram anunciados por Deus, determinados, praticamente selados, foram mudados à medida que o homem mudou. Eu poderia citar o dilúvio, poderia citar a decisão de Deus em eliminar Israel no deserto e dar descendência somente a Moisés. Mas vou me ater a Ezequias.
Se eu fosse Ezequias, e ouvisse da boca de Isaías que eu morreria logo por determinação de Deus, iria certamente ficar triste como o rei ficou, mas nem sei se pediria mais tempo para mim. Não tinha sido Deus quem anunciou? Não tinha saído a mensagem da boca de um profeta digno, como era Isaías?
No entanto, por uma oração regada a lágrimas, Deus dá um "breque" em Isaías antes dele sair do palácio e manda voltar e dar outra mensagem, modificando aquilo que tinha dito minutos antes.
Deus não muda, nem sua onisciência, pois Seus atributos são imutáveis. Sua justiça, seu amor, sua longanimidade, sua retidão, etc... mas o homem muda... e o trato de Deus muda de acordo com a atitude do homem, sem que Ele mesmo sofra qualquer sombra de mudança.